Às vésperas do aniversário de 465 anos de Mogi das Cruzes, o historiador Glauco Ricciele ressalta que a história da cidade se mistura à história do Brasil e é moldada por um "caldeirão de culturas". Ele lembra que a identidade do município vem de um legado construído ao longo dos séculos por diferentes povos: comunidades originárias, população escravizada, trabalhadores vindos de outros estados e imigrantes de diversos países. Além de falar sobre o passado, Ricciele lança um olhar para o futuro, especialmente em defesa do patrimônio.

A preservação de uma cidade, segundo o historiador, começa por ações de caráter educativo: “As pessoas têm que conhecer a história, para entender e poder preservar esse patrimônio material e imaterial. Não adianta só restaurar um prédio e ele ficar ali no meio da cidade e ninguém saber sua história. Essa valorização parte do conhecimento”. 

Sobre o aniversário da cidade, Ricciele deixa um recado de incentivo à preservação: "Não é fácil e não é uma dificuldade só de Mogi, é uma realidade do país, de desvalorização, mas a gente precisa continuar nessa luta para que essas políticas públicas sejam de continuidade. Só assim a gente consegue plantar, cultivar e colher no futuro", avaliou, afirmando que o cenário atual é positivo, mas ainda precisa de atenção. "A gente já viu muito na história da cidade se acabar, seguida por momentos de retomada a partir dos anos 80", lembrou. 

O historiador destaca ainda que a cidade é uma das mais privilegiadas do país na questão do patrimônio. “Temos uma raiz muito antiga, com a população indígena e preta. A gente vê aqui uma das primeiras vilas do Brasil em 1611. Mogi nunca foi uma cidade rica, foi ter um destaque econômico no século 20, foi uma cidade que teve várias realizações”, contou. Segundo ele, os registros arqueológicos indicam a presença de cerâmica datada de até mil anos atrás na cidade. 

Foi justamente a contribuição de povos diferentes que transformou Mogi, segundo o historiador. “A identidade da cidade tem um pouquinho de cada cultura. Em cada época Mogi teve um pouco de ganho, como se fosse um grande caldeirão de culturas", pontuou. Ele destaca a influência dos carmelitas e da população escravizada durante o período colonial (séculos XVI e XVII), que deixou legados na música, gastronomia e arquitetura, como as Igrejas do Carmo. Posteriormente, chegaram os imigrantes, inicialmente com os japoneses, mas depois se estendendo a outros povos, como os árabes. Os trabalhadores de outros estados vieram nos séculos XIX e XX, sendo um dos marcos a criação da Cosim (Companhia Siderúrgica de Mogi das Cruzes).

Projeto

Ricciele coordena o projeto (Re)Descubra Mogi das Cruzes, que oferece aulas, roteiros e materiais educativos gratuitos sobre a história local. “Faço as aulas no cemitério, por exemplo, com 70 pessoas que vão de noite. Mostra que as pessoas querem sim conhecer. O projeto envolve programação, reúne vídeos, postagens, aulas gratuitas", contou.

O projeto inclui visitas guiadas a espaços históricos, como o Cemitério São Salvador, no Parque Monte Líbano, e o Hospital Dr. Arnaldo Pezzuti Cavalcanti, em Jundiapeba. “Hoje algumas empresas parceiras estão ajudando a custear, e a ideia é ser gratuito, fomentando a economia da região", disse. O historiador planeja a expansão do programa para levar roteiros a outros bairros e também trazer moradores de diferentes regiões para conhecer o Centro Histórico de Mogi. Ele também pensa em futuramente expandir o projeto para outras cidades do Alto Tietê.

O próximo roteiro guiado acontecerá no Cemitério São Salvador, na próxima sexta-feira (5/09). As inscrições devem ser feitas no https://glaucoricciele.com/