Grandes expressões da música brasileira foram reveladas nos festivais de música que ocorreram durante a década de 1960. Nos festivais, que despertavam grande apelo popular no país, os espectadores torciam por seus cantores ou canções preferidas. Em 1969, Mogi das Cruzes teve o 1º Encontro Estudantil de Música Livre, que ficou conhecido como Festival da Associação Mogiana de Belas Artes (Amba).
A entidade surgiu no dia 25 de janeiro de 1965, após a morte do pintor e paisagista Antonio Ferri. Seus idealizadores foram os artistas plásticos Norberto Duque, Olga Duarte Nóbrega, Ruth Eiras e Rubens Parada Queiroga. O artista plástico Van De Wiel foi um dos maiores apoiadores da Amba e o primeiro presidente da associação, cuja sede ficou, inicialmente, no Casarão do Carmo e, depois, ocupou dois porões de um outro prédio na rua Paulo Frontin. A professora Myeka Fukuda era quem ministrava as aulas de pintura na Amba. Além das iniciativas voltadas às artes plásticas, foi a associação quem deu abertura para que o 1º Encontro Estudantil de Música Livre da cidade, por meio do seu presidente na época, Joaquim Carlos Bianguli de Faria, pudesse acontecer. Em 1969, a Amba encerrou as atividades.
O Festival de Música aconteceu nos dias 15 e 16 de novembro de 1969, no auditório do Liceu Braz Cubas, e contou com a inscrição de mais de cem canções autorais, das quais 30 foram apresentadas no primeiro dia. No júri estavam presentes o professor Jurandyr Ferraz, o colunista social Mutso Yoshizawa e o maestro Gaó como presidente. A ideia de organizar um evento assim surgiu depois que o músico e compositor Luiz Augusto Vianna do Rio assistiu a um festival realizado pelo Teatro Experimental Mogiano (TEM) em meados de 1969. "A época era de festivais. Tinha ocorrido recentemente o Festival de Woodstock, nos Estados Unidos, e o TEM tinha feito um festival interno em Mogi. Pensei: por que não fazer um festival mais abrangente reunindo todos os tipos de músicas?", explicou Vianna.
O jovem levou a ideia para o presidente da Amba, que aceitou a proposta. Junto com Claudio Aranha e os artistas membros do grupo, Vianna organizou o festival sem apoio financeiro, contando com o engajamento dos artistas. "Queríamos que o festival fosse livre. Teve gente que pensou que era um festival anarquista", brincou Vianna. O evento foi a última manifestação cultural dos anos 1960 em Mogi. Para o organizador, o objetivo era celebrar a década de intensos acontecimentos culturais. "O encontro era para mostrar as diferenças e a liberdade dos anos 60", continuou Vianna.
Destaques
Ontem foi realizado um show em comemoração aos 50 anos do festival. Além de apresentar as músicas que fizeram sucesso nos anos de 1960, foi realizada também uma homenagem ao cantor Dércio Marques, que morou em Mogi das Cruzes e foi revelado no festival. O cantor, falecido em 2012, produziu 14 álbuns, o último disco em 2003. Marques em suas canções trazia o meio ambiente e as questões sociais como temas e foi considerado um dos mestres da viola.
Fatos inusitados ocorreram no dia do festival, em 1969. O apresentador do evento, o espanhol Juan, foi vaiado pelo público por se mostrar um pouco atrapalhado. Outro fato imprevisto, um apagão, deixou todos no escuro obrigou os artistas a cantarem sem luz.
*Texto supervisionado pelo editor.