O terreno que hoje abriga um estacionamento na rua Princesa Isabel de Bragança, 375, quase em frente à praça da Bíblia, na região central de Mogi das Cruzes, já foi o "point" da noite mogiana e passagem obrigatória para os jovens que vinham para a cidade só para curtir uma balada. Trata-se da Kanguru Discoteque, uma das casas noturnas mais glamorosas e famosas de Mogi, idealizada pelos sócios Nelson Muniz e Marcos Shartzmann no final dos anos 1970. Com uma fachada acanhada para os padrões atuais, a discoteca tinha uma única entrada protegida por um toldo e dois tubos laterais que serviam para a circulação de ar.
Ao adentrar no local, o frequentador passava por um corredor que o levava para o salão, onde, ao lado esquerdo ficava o bar e à direita se encontravam os banheiros. Já a tão disputada pista de dança ficava no centro do salão, com um globo giratório bem ao centro, embalado pelo som do discotequeiro que vinha do mezanino superior direito. Em volta da pista ficavam algumas mesas e cadeiras, junto a um telão que transmitia o clipe das músicas que eram tocadas. Inaugurada no dia 15 de dezembro de 1977, na época do filme Embalos de Sábado à Noite e da novela global Dancin' Days, a Kanguru encerrou suas atividades em 1980.
Como a década de 1970 foi marcada pela febre da disco, era comum ouvir na Kanguru músicas de grandes artistas da época, como a rainha da discoteca, Donna Summer, Roberta Flack, Village People, Chic e Brother's Jhonson's, dentre outros. Músicas nacionais com Tim Maia, Rita Lee e As Frenéticas também eram ouvidas, mas em menor quantidade, pois o gênero tinha seu berço nos Estados Unidos. As canções chegavam ao Brasil cinco meses depois de já terem sido lançadas lá fora, como explica Ronaldo Costa, que foi o discotequeiro residente da Kanguru, entre 1977 e 1979. "Naquela época, as músicas faziam sucesso por um ano. Só quem tinha os discos era os discotequeiros. Essas músicas só chegavam aqui depois de terem feito sucesso em outros países", destacou.
Sexta-feira e sábado eram os dias de festa na Kanguru, com um público composto, na sua maior parte, por jovens entre 18 e 25 anos que formavam filas gigantescas a partir das 23 horas para dançar e curtir a noite. Para Costa, o clima daqueles tempos era diferente de hoje. "As pessoas curtiam mesmo a noite e as músicas. Dava para sentir a pele arrepiar de ver as pessoas aproveitando a noite, era tudo mais sofisticado do que hoje", relembrou.
Nessa hora, o discotequeiro era o ponto alto da balada, que levava o público a ter energia para dançar a noite inteira. Ele tinha de tocar no mínimo quatro músicas inéditas a cada noite para inovar e deixar a Kanguru como marca registrada nas noites mogianas. Costa tinha todo um cuidado para escolher a playlist mais apropriada. "Chegava na discoteca cedo, limpava os equipamentos, escolhia as músicas que iriam abrir a pista e as músicas que iam ser tocadas no horário nobre", relatou.
A Kanguru foi a primeira discoteca da cidade. Em cada noite recebia uma média de público de 700 a mil pessoas, sua capacidade máxima. Até mesmo comercial da discoteca mogiana foi veiculado na Rede Globo na época. Depois, vieram outras casas noturnas, como a Dragão, 433 e o Canecão, situadas na região central, e a Chap Chap, na serra do Itapeti.
* Texto supervisionado pelo editor.