Mudanças climáticas, transeuntes apressados, ruídos tipicos da cidade, pessoas que param para observar e aqueles que chegam até a interagir. Estes são alguns dos acontecimentos mais comuns para quem transforma a rua em palco e utiliza a seu favor tudo o que ocorre ao redor. Com dois anos de trajetória, a Cia. de Teatro 6 ,
de Mogi das Cruzes, está vivenciando pela primeira vez a experiência de ocupar espaços públicos da cidade com a apresentação de um espetáculo, que contará com a participação do Grupo Herança Cultural Capoeira. Trata-se de "O Pagador de Promessas", de Dias Gomes, que ocorrerá hoje, às 12 horas, no Largo do Rosário. Esta é a segunda de seis encenações que o grupo fará até o fim do mês. A primeira foi realizada ontem no mesmo local. A entrada é gratuita.
Oriunda da Oficina Livre de Teatro do Galpão Arthur Netto de Cultura e Cidadania, a companhia teatral, que é composta pelos atores Adriana Matias, Ana Carolina Mota, Gabriel Carrasco, Henrique Morais Nogueira, Isabela Zandoná, Joseval Silva, Karen Rodrigues, Luciane Torigoe, Marcos Knevitz, Rafael Batalha, Ricardo Caffé e Vitor Gonçalves, se envolveu em processo de produção de oito meses para dar vida à peça e, com a finalidade de conhecer com mais profundidade o teatro de rua, ensaiou nos locais das apresentações. Antes do início da encenação, o grupo apresentará cinco pagadores de promessas, que sairão de cinco igrejas e se encontrarão no espetáculo.
De acordo com o diretor do espetáculo, o ator Manoel Mesquita Junior, esta é a primeira vez que um grupo da oficina opta utilizar os preceitos do teatro da rua para dar vida a uma peça. "No início, não era para a peça ser apresentada na rua, porém, o grupo notou, no meio do processo, que não existia lugar melhor para que a encenação ocorresse, devido à representatividade de 'O Pagador de Promessas' e o fato de o espetáculo ter uma relação muito forte com a cidade, que já foi palco de acontecimentos parecidos com a obra de Dias Gomes", acredita ele, que também é um dos fundadores da Cia. do Escândalo e gestor do Galpão Arthur Netto.
Para a professora Adriana Matias, que é uma das 12 integrantes da Cia. de Teatro 6 , a experiência de ter ensaiado o espetáculo no local da apresentação foi interessante. "Muitas pessoas passavam e paravam para assistir aos ensaios, achando que já estávamos encenando o espetáculo. Para poder dar vida à peça, nos preparamos antecipadamente, pois algumas interferências podem ocorrer durante a encenação. Aprendemos também a utilizar técnicas de projeção de voz pelo fato de o espetáculo ser realizado na rua", revela a atriz, que tem envolvimento com o teatro desde 2000 e antes de participar da Oficina Livre de Teatro durante dois anos, fez uma participação, em 2009, na peça "O Tribunal da Santa Ignorância", da Cia. do Escândalo.
Montagem
Com a finalidade de tornar o espetáculo ainda mais profundo e intenso, o grupo imergiu em uma pesquisa extensa, que abordou as religiões afro-brasileiras, o sincretismo religioso brasileiro, a culinária, principalmente a africana, e a linguagem do teatro de rua. Este último estudo foi feito em parceria com o ator e diretor Rodrigo Romão Batista, da Clara Trupi de Ovos y Assovios.
Além disso, o grupo foi o responsável pela construção de objetos e figurino, que contou com o apoio da figurinista Rosemeire Gonçalves. "Durante oito meses, vivenciamos o processo de produção. Construimos todos os objetos de cena e criamos o figurino, com o apoio da Rosemeire. Foi um desafio desenvolver 'O Pagador de Promessas'", finaliza Adriana.