A bailarina Célia Gouvêa está despojada no palco. Aos 50 anos de carreira dedicada à dança, ela tem a certeza que menos é mais. E se recusa a chamar de "espetáculo" seu "Alavancas e Dobradiças", chama de "peça de dança" seu mais recente trabalho, que faz duas curtas temporadas em São Paulo: em O Lugar, nos dias 27, 28 e 29 de novembro, com ingressos a R$ 10 (inteira) e R$ 5 (meia-entrada), e no Centro Cultural São Paulo (CCSP), dias 11, 12 e 13 de dezembro, com entrada gratuita. O primeiro espaço fica na rua Augusta, 325, na Consolação. Já o segundo na rua Vergueiro, 1.000, no Paraíso. 
Em cena, é a própria Célia que relata, em tom confessional, com palavras, gestos e passos, sua trajetória e lembranças e lança a pergunta: "O que é a dança para você?". E segue além ao questionar a proliferação atual dos relatos pessoais cênicos ao mesmo tempo em que promove um. Em "Alavancas e Dobradiças", a artista lança reflexões e apresenta trechos de coreografias de décadas passadas, como "C-E-C-I-L-I-A", "Assim Seja?", "Expediente" , "Festarola", "Romance de Dona Mariana" e "Parasha". Aos extratos, conta momentos pessoais que viveu quando da criação e circulação das obras e cita filósofos, mestres e parceiros de cena, tudo ao som do 2º movimento do concerto para violino e orquestra de Philip Glass.
Há dois anos, a bailarina fez um recuo e repensou o que poderia movê-la, impulsioná-la a uma nova criação. Desse momento de busca veio o desejo de concluir algo que havia parado na juventude, mas que poderia subsidiar inquietações: terminar a faculdade de Filosofia, iniciada aos 18 anos, mas deixada para trás para que pudesse seguir com a dança, a paixão urgente. Formada em Filosofia em 2012, já se qualificou para o Doutorado na ECA/USP e, em breve, terminará mais esse ciclo em sua vida.
Por que o nome da "peça de dança"? Célia responde que "os dois termos apresentam definições como potência e resistência, que juntas geram energia, fator necessário para as mudanças". A bailarina tem a certeza que o passar dos anos propicia "deixar de lado o que é supérfluo, e ficar com o que importa". E na obra que apresenta agora, Célia se sente à vontade para citar alguns dos filósofos, mestres e parceiros de cena que nortearam, de alguma forma, a construção dessa peça de dança: de Roland Barthes a Maurice Merleau Ponty, passando por Gilles Deleuze e Khrisnamurti; os professores Celso Cruz, Fernand Schiren, Ruth Rachou; os coreógrafos Alwin Nikolais e Maurice Béjart, dentre outros profissionais.