Pela primeira vez na história, o Dia Nacional de Zumbi e da Consciência Negra, celebrado nesta quarta-feira, dia 20 de novembro, será feriado nacional. A Lei 14.759/23, que declara a data feriado no Brasil foi sancionada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em dezembro do ano passado. A data busca rememorar a luta do povo negro, colocando como marco histórico a morte de Zumbi, que comandou o Quilombo dos Palmares e foi morto em 20 de novembro de 1695.

Para o presidente e idealizador da Associação Afro Brasileira da Cultura e Arte (Afrontarte), de Mogi das Cruzes, Lindemberg Alves, é um dia de resistir e lembrar as lutas dos negros. "A população negra tem como histórico a valorização da ancestralidade, da cultura, e a data é justamente para lembrar e valorizar isso. É um dia de resistência e para mostrar que somos iguais e merecedores de todos os direitos”, disse ele, que também é coordenador do Movimento Negro Unificado, e sacerdote de Candomblé Angola. “São movimentos de resistência e valorização da cultura preta”.

Racismo e representatividade

Segundo dados do Censo 2022, divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio Continua, aproximadamente 56% da população brasileira é negra, sendo 45,3% pardos e 10,6% pretos. Apesar de maioria no país, o número de casos do racismo são alarmantes. De acordo com o Anuário Brasileiro de Segurança Pública de 2024, o registro de casos saltou de 5.100 em 2022, para 11.610, em 2023, aumento de 77,9%.

Alves afirma que o racismo é um dos maiores problemas: “Existe uma frase que diz que o racismo não acabou ou diminuiu, agora ele só é registrado. Hoje conseguimos provar que o racismo existe e é um problema estrutural, é um cupim na sociedade. Quando você vai registrar um caso de racismo a primeira coisa que acontece é o oficial que vai registrar o caso desacreditar ou falar que vai levar muito tempo. Então, a pessoa que vai com a denúncia acaba sendo desmotivada a seguir, não vai pra frente, não vira dado estatístico, não vira política pública e não vira material de reeducação para quem comete”.

Ele ainda ressalta a falta de políticas de reparação e de valorização da cultura afro-brasileira:  “Precisamos de representatividade, não estou falando de todos os vereadores de uma Câmara serem pretos, mas sim de pessoas que pensem na sociedade como um todo, que olhem para todos de forma igual”.

Outro ponto destacado pelo presidente da Afrontarte é a necessidade de um trabalho de valorização desde a infância. “Meu neto é criado dentro da Afrontarte, onde ele recebe toda a informação sobre uma criança negra desde quando ele estava na barriga. Ele chegou um dia em casa, pegou a tesoura e cortou o cabelo. A gente não sabia o motivo. Minha filha conversou com ele e descobriu que ele estava sendo hostilizado por conta do cabelo por outras crianças. Então, uma criança que teve todo esse suporte de reconhecimento passou por isso, imagina as outras crianças”.

Reforçando a importância do Dia da Consciência Negra, Alves afirma que o momento é de “comemorar a ancestralidade e continuar resistindo". "Vamos nos aprofundar no nosso próprio conhecimento. A luta contra o racismo não é uma luta contra outras etnias, e sim contra pessoas racistas”, finalizou. 

*Texto supervisionado pelo editor.