O novo episódio do Café com Mogi Newsque, com apoio da Padaria Tita, apresenta o químico Sidnei Franco, criador do Projeto Liberdade. Sidnei atua há 20 anos auxiliando pessoas com deficiência (PCDs) e mobilidade reduzida do Alto Tietê e de outras localidades do Estado de São Paulo. Entre os serviços disponibilizados pelo Projeto está o empréstimo de equipamentos médicos, como camas hospitalares, macas e cadeiras de rodas. “Hoje o volume é tão grande que eu tenho mais de trezentas cadeiras. E nunca comprei uma”, detalhou.
Sidnei contou na entrevista sobre como o projeto começou, como é mantido e os objetivos para o futuro. Ele enfatizou a importância das parcerias com outras ONGs para construção de uma rede de fortalecimento de práticas sociais e para disseminação de informações sobre o direito do consumidor e de políticas públicas governamentais, garantindo que as pessoas tenham acesso a equipamentos, medicação e auxílio médico. Saiba mais nesta entrevista exclusiva ao Café com Mogi News.
Café com Mogi News: Como o Projeto Liberdade surgiu?
Sidnei Franco: Comigo é praxe sempre procurar ajudar as pessoas sem tirar proveito de nada. Alguém me pediu uma vez, há uns vinte anos, desde quando eu tenho convênio funerário, uma cadeira de rodas. Eu falei: “Eu tenho lá, eu tenho direito a cadeira de rodas, cadeira de banho”. Noventa por cento das pessoas não sabem que têm direito à cadeira de rodas, junto ao convênio funerário. Eu pegava muletas, pegava cadeira de banho, cadeira de rodas e assim por diante e devolvia. Mas só quando eu ia buscar na casa da pessoa que eu havia emprestado, do meu convênio funerário, ela falava: “olha eu ganhei aqui uma cadeira de banho, você me emprestou a de rodas, você não quer já levar?” Eu levo, só que não entregava para funerária, deixava guardado para a hora que alguém precisasse. Hoje o volume é tão grande que eu tenho mais de trezentas cadeiras. E nunca comprei uma. A gente tem uma oficina para consertar e fazer manutenção.
CMN: Qual o perfil do público que você atende?
Franco: Eu não busco, as pessoas me procuram. Eu procuro saber a comorbidade de uma forma bem sucinta, eu procuro saber se tem convênio. “Nossa, eu tenho convênio. Posso ligar lá?”. Aí retorna: “Eu tenho direito, estou indo lá buscar agora, o cara já reservou para mim”. Outra coisa que eu fui aperfeiçoando é a pessoa me liga e fala “o meu convênio não dá direito”. Você tem convênio? Há quanto tempo? Então, nisso cabe portabilidade. Você pode fazer a portabilidade para outro convênio que tenha e você não tem carência, você já pode pegar na mesma hora. Se não conseguir, eu atendo.
CMN: Além de dos equipamentos, você oferece orientação. Como funciona?
Franco: Hipoteticamente a pessoa está pedindo uma cama hospitalar. Eu pergunto como ele está indo para o banheiro. A cama hospitalar é muito alta. Se a pessoa está descendo e subindo, vai ter problema na cama. “Não, o banho está sendo no leito.” Então agora eu já sei que vai precisar mesmo. Faço a visita para saber se a cama vai servir na casa. Ali, eu fico sabendo se ela está com escara, se tem alguma comorbidade, usa algum equipamento, por exemplo, sonda interal, se ela está comendo pelo estômago ou se está com bolsa de colostomia. Nisso eu consigo auxiliá-los com oxigênio, como conseguir gratuitamente pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Como conseguir a Equipe Multiprofissional de Atenção Domiciliar (Emad) e as pessoas não sabem que têm direito. Ele vai ter ali uma equipe multiprofissional: nutricionista, médico, enfermeiro.
CMN: O Projeto Liberdade também atende os familiares desses pacientes, como é o trabalho realizado com esse público?
Franco: Eu tenho um foco comigo de levar alegria. Se a pessoa não pode estudar, como também sou professor de química, eu sei os caminhos para o Ensino de Jovens e Adultos (EJA). Falo sobre educação financeira. Eu tenho apoio de amigos que me doam cesta básica. Eu faço o contato e vou lá. Eu quero saber o que está acontecendo. E aí você descobre que ela está há alguns meses desempregada. Estive em Mogi das Cruzes, houve um óbito na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) e a pessoa pediu orientação. Sai com eles e fizemos o funeral social, tudo gratuito. Lá vem a pessoa: vamos fazer uma vaquinha porque a pessoa veio a óbito e precisamos angariar fundos. Não. Se não tem fundos, faça o funeral social.
CMN: Como a iniciativa é mantida?
Franco: Ainda hoje eu sou sozinho. Tenho colaboradores que são fantásticos. E eles sempre falaram: “Vamos ajudar a divulgar”. Mas não isso aqui tem que ser feito sem tirar foto, sem expor ninguém.
CMN: O que você sugere para quem quer começar a ser voluntário?
Franco: Tem muita gente querendo ajudar, mas não sabe como. Um dos nossos alicerces é a equoterapia (Instituto Arion). Nós atendemos as três Associações de Pais e Amigos dos Excepcionais (Apaes) da região: Poá, Suzano e Itaquá. As mães azuis (mães de crianças com transtorno do espectro autista — TEA). A Piaget também é ligada, o diretor abriu uma porta muito grande para nós: um espaço para no futuro montar a equoterapia. Está em trâmite junto a Prefeitura de Suzano um comodato.
CMN: Como o público pode ajudar o Projeto Liberdade?
Franco: O canal é entrar em contato comigo mesmo. Meu telefone é ligado 24 horas. Como eu não uso rede social para divulgar o que eu faço, o canal é entrar em contato comigo mesmo. Uma vez você na parte social, você tem que esperar qualquer ligação. Ocorreu um óbito às 10 ou 11 horas da noite, eu estava providenciando o enterro social. Se eu deixasse o meu telefone desligado não teria como a família entrar em contato.
CMN: Para a pessoa que quiser ajudar o projeto também é possível doar medicação?
Franco: A medicação somente com receita. Houve um óbito ou a pessoa melhorou e fala: “Sidnei eu tenho morfina e gabapentina”. Eu sei quem está precisando. Mas se ele não tiver a receita, eu não levo.
CMN: Como começar a ser voluntário, iniciar um projeto ou procurar parceiros?
Franco: Eu não tenho ONG, eu não tenho instituto. Mas existem centenas que precisam de ajuda. Hoje eu ajudo o Instituto Arion; ajudo a Associação de Apoio aos Deficientes Visuais (Aadvis) — além de quatro creches, uma casa de repouso e um acolhimento, que fazem parte da Aadvis; o Grupo de Apoio a Pessoas com Câncer (GAPC), a gente sabe o trabalho que eles fazem lá. Eles têm dificuldade com comida interal, a gente consegue e direciona para ela. Eu não consigo direcionar toda comida interal que eu consigo (só para a GAPC), porque nem todos fazem parte da comorbidade. Tem outras comorbidades e eu atendo todas. Quem está precisando de comida interal, eu vou levar e mostrar os caminhos para consegui-la. O caminho é você pegar a nutricionista do SUS, ela vai te encaminhar. Você está precisando então ela vai impetrar (solicitar) isso. Você levantando os documentos, isso vai ser enviado. Onde a demanda será aprovada ou não. Uma vez aprovada, retira-se no Bom Retiro. Parceiros também ensinam como trocar um lençol sem retirar o paciente, como manusear um oxigênio.
CMN: Quais seus planos para o futuro?
Franco: Hoje nesse meio que eu vivo, um desejo meu é de fazer o mestrado em Políticas Públicas. Mas eu pretendo sim. Fazer Políticas Públicas para levar mais conhecimento ainda para o pessoal.