É tendência geral o ser humano enfatizar seus reveses, reclamar deles e, muitas vezes, neles focar, sem ter a exata dimensão da significância das benesses que experimenta, incluindo-se aqui, a ausência de determinados problemas. Nossa fragilidade, no entanto, é patente e, nesse sentido, quando mais nos temos por fortes é que, de hora para outra podemos ser enfraquecidos, de forma incontrolada, pois o nosso controle próprio, é mínimo: está tudo bem, vem um acidente, um tropeço e um tombo com implicações razoáveis e pronto, vai-se do tudo bem para o mal. Por isso eu diria que é benéfico atentar para as coisas boas que temos, contemplá-las e reconhecê-las como tais em nossas vidas, especialmente as menores, muitas vezes, insignificantes para a maioria.
Desde o levantar até o deitar estamos executando o básico do básico, sem nunca fugir disto e que maravilha poder viver normalmente! Que bom poder acordar sem dor, ter a visão para contemplar a vida que é retomada ao vivo e em cores, ter chinelos para calçar, banheiro para usar, locomover-se, ter roupas e calçados, acessórios, café da manhã e tantas outras coisas tão básicas e automáticas. Mas o fato é que, à noite, vamos dormir e nos passaram despercebidas. São raros os que ao final do dia sentem a alegria ter completado mais uma jornada incólumes e agradecem a Deus ou reconhecem o sucesso de mais um dia que se foi! Considerava-me uma pessoa que enxergava a relevância de ter o básico, mas recentemente, percebi que não era bem assim: por alguns dias, em função de um problema na coluna, perdi a condição de me locomover, de me movimentar, de fazer minhas necessidades básicas normalmente, de me alimentar sozinho, além de experimentar constante e terrível dor, em dias e noites intermináveis. O meu maior anseio era, simplesmente, acordar e poder fazer tudo aquilo que fiz por toda a vida, sem perceber. Que valor têm essas pequenas coisas! É pena que só o reconheçamos de maneira plena, quando, efetivamente, as perdemos!