O novo episódio do Café com Mogi News destaca o projeto social de Mogi das Cruzes, o Only Way, que iniciou as atividades em maio deste ano, na Avenida Julio Simões, no Jardim Santa Tereza. Idealizada pelo empreendedor Cleber Franklin, a iniciativa, que tem como nome oficial Instituto Mães Masako & Gloria, oferece capacitação para jovens e adultos ingressarem no mercado de trabalho, além de oficinas de artes marciais e dança para crianças, adolescentes e pessoas com 40 anos ou mais. Saiba mais nesta entrevista especial, produzida com apoio da Padaria Tita. 

Café com Mogi News: Como começou o projeto e quais as atividades que vocês desenvolvem?

Cleber Franklin: O instituto em si, começou as atividades em maio com a modalidade de judô. Hoje, nós já atendemos judô, aikidô, karatê, jiu-jitsu, balé, que é uma coisa que linda. A gente tem balé turma de 3 a 6 anos, tem outra turma de 7 a 10 anos, uma turma de 11 a 15, abrimos a de 16 e 19 anos, mas, a que mais me surpreendeu foi a de 20 a 45 anos, porque normalmente, quando a gente pensa no balé, a gente pensa realmente numa questão de criança e cada turma tem em média 20 crianças. Quando a gente abre as turmas, a gente leva às vezes de duas a três semanas para preencher. A turma das 20 a 45 anos, a gente preencheu em menos de um dia.

O que me chamou atenção foi que a percepção que eu tinha não era a mais correta. Eu comecei a entender quantas mulheres de 20 a 45 anos tinham o sonho de fazer balé e talvez não tiveram oportunidade e agora estão realizando, o que para mim foi surpreendente. Eu resolvi mudar o olhar para isso. 

Fora isso, a gente tem aula de canto, que a gente chama de canto coral 40+. A ideia é pegar acima de 40 anos, também tem canto coral para crianças, aula de violão. Temos a aula de marketing para pequenos empresários. Quando nasceu essa ideia de marketing, que foi a área que eu me formei, mas ai eu conheci um abençoado chamado Edvaldo e a gente abriu pensando nos pequenos empresários que não têm condição de pagar uma agência. Eles vão durante três meses, toda segunda-feira, recebem o conteúdo, uma apostila que o Edvaldo desenvolveu de grande qualidade. Ele é mestre na área. Eles aprendem e têm que aplicar no negócio. Então, eles vêm toda segunda-feira receber uma nova dose para aplicar no negócio.

CMN: É como uma lição de casa.

Cleber: Exatamente, porque eu nunca tive o desejo do coração de dar diplomas. Eu sempre tive o desejo de coração de gerar emprego para quem quer trabalhar. Então, sobre o diploma, eu falo: "Imprime na sua casa", e agora, a gente abriu um curso chamado 'Mecânico de ar-condicionado'. São sete semanas em que eles vão ver e aprender desde a parte teórica, o funcionamento, tudo. No Instituto, todos os ambientes têm ar-condicionado, então, eles vão aprender desde a teoria do funcionamento, a prática de manutenção e de execução. Eu já tenho duas empresas esperando eles se formarem. Em todo o curso profissionalizante, eu sempre tenho em mente que eu preciso do empregador, porque não existe empregador sem colaborador, e não existe colaborador sem empregador.

CMN: E são voluntários esses professores? Vocês estão em Mogi?

Cleber: Estamos em Mogi, ali na Avenida Júlio Simões. Ficamos a dois quarteirões antes da Avenida Japão, e o local também tem um significado muito especial. A ideia realmente é a gente fazer a ponte entre esses que querem trabalhar. Quem não quer trabalhar a gente não não gasta essa energia.

CMN: E para os mais jovens, a ideia é de estar oferecendo essa oportunidade, mostrando novos caminhos?

Cleber: Sim, inclusive dessa formação de mecânico tem dois integrantes com 17 anos, porque o primeiro foco que nós tivemos na seleção das pessoas para essa vaga eram pais de família. Na verdade, começou com  desempregado, pai de família e que gosta de trabalhar com equipamento, porque se a gente for pegar uma pessoa que se identifica com computadores, se identifica com papel, ele não vai querer pegar um equipamento. A gente teve essa seleção e duas pessoas de 17 anos, conforme a seleção, eu falei: "Pode colocar esses dois, porque a gente já vai preparar para o mercado de trabalho".

CMN: Você falou que o projeto chama Only Way, mas ele tem um outro nome, na verdade.

Cleber: Eu tenho um comércio aqui em Mogi que é o Prime Beef, uma boutique de carnes, e também tenho uma corretora de seguro e faço administração de uma empresa de serviços. Mas, como começou isso? No dia 31 de agosto de 2022, eu estava em uma mentoria em Bragança Paulista (SP) e, senti claramente uma voz falar dentro de mim: "Construa um lugar aonde você cuida de pessoas". Naquele momento, eu achei que poderiam ser as emoções. Quando eu fui conversar com a minha esposa, falei: "Ângela tive a impressão de Deus estar pedindo para construir um lugar onde servimos as pessoas". Eu sou fruto de projeto social. E minha esposa falou: "Cleber, eu também tive essa impressão e eu ia falar isso com você".

Eu falei: "Deus não é um Deus de confusão", e falei: "Ângela, a gente tem aquele terreno lá na Avenida Júlio Simões, o que você acha de construir um lugar para fazer um projeto social?". Ela falou assim: "Com que dinheiro?" Eu falei: "Ah, a gente acaba com a nossa economia". Ela falou assim: "Mas, Cléber, não tem dinheiro para isso tudo". Falei: "A gente vende o que a gente tem". Ela falou: "Vender?". E eu: "É, a gente vende o imóvel lá de Suzano", a gente tinha um apartamento. 

E você pensa, uma mulher que tem uma criança dentro de casa, de 9 anos, e uma outra de 11 anos, virar para o marido e falar: "Pode por tudo a venda". Ela realmente tinha convicção que era Deus pedindo e, colocamos tudo à venda. A última coisa que a gente vendeu para construir o projeto foi o estacionamento, que na época a gente vendeu o carro dela para fazer. Voltando da localização, olha que interessante, eu nasci naquele lugar, eu fui criado ali e o esgoto passava em frente de casa, era tudo terra. 

A Casa Anna de Moura, que é a casa das freiras, foi onde a gente saía da escola e ia para ter atividades extras e lá que muitas vezes a gente comia. O Lar Batista era a instituição que a minha mãe pegava aqueles tíquetes para a gente ter leite em casa. Tanto a casa da Anna de Moura, quanto Lar Batista, fizeram parte da minha infância, alguém investiu lá. Foi bem interessante, porque quando eu estava conversando com a com a minha esposa, eu falei: "Ah, vamos construir o Instituto e vamos colocar o nome de Masako e Glória", que é o nome da minha sogra e da minha mãe. Deus permitiu construir o Instituto de frente para a casa da minha mãe, no lugar onde eu passei a minha infância.

Hoje eu moro na região de Cesar, e pude dar a alegria da minha mãe poder estar vendo tudo que ela fez, porque a minha mãe era uma mulher batalhadora, ela lavava ônibus aqui na Eroles. Eu agradeço por Deus ter me chamado e eu agradeço a Deus por ter colocado a minha mãe e a minha sogra fazendo a história dos filhos. Hoje a gente está podendo recompensar para o bairro, de maio para cá, a gente atende mais de 200 famílias.

CMN: A gente vê muito aqui, quando você começa a fazer o bem, parece que vai atraindo, vai puxando outras pessoas e nada é perdido. 

Cleber: Ah, eu te falo que desafia, e durante a obra, a construção daquele espaço foi um grande aprendizado. Uma certa vez, eu estava no meio da construção e, por eu trabalhar em um negócio, eu olhei no meio daquela construção, eu lembro de ter conversado com Deus: "Deus, se envolver enquanto eu tinha dinheiro estava fácil, mas, eu estou me envolvendo sem dinheiro", porque eu já tinha acabado a minhas economias e mandei concretar na fé de que viria o recurso e eu anteciparia as coisas da empresa. Foi tão interessante que, 15 minutos depois, eu recebi uma ligação do corretor: "Cara, vendi seu apartamento". Eu chorei, liguei para minha esposa e no meio da construção, eu falei: "Deus, o Senhor está me dando recursos para construir esse lugar, e para administrar tudo isso?". Quem tem empresa sabe...

CMN: Tem que manter durante o dia a dia.

Cleber: Eu lembro de uma voz falar dentro de mim o seguinte: "Te mandei construir". Aí eu entendi muito bem que a vida é feita de fases, e as fases, elas devem ser respeitadas e devem ser curtidas. O que eu aprendi também durante toda aquela construção, o que mantém a estrutura, o que realmente mantém de pé ninguém vê. A fundação está lá, mas ninguém valoriza a ferragem que está dentro das paredes. Vê só pintura, o acabamento, os móveis, mas o que é essencial para manter o local ninguém percebe, ninguém valoriza. E assim é a vida das pessoas, a gente precisa desde a base, através de disciplina e do foco, criar essa estrutura que ninguém vê mas, ela que vai estruturar as pessoas para a vida inteira.

Foi daí que a gente criou os três pilares do Instituto que são: foco, disciplina e trabalho. Sem esses três, a gente não vai. A gente é muito rígido no primeiro pilar, o foco. Para tudo a gente quer saber o que você quer. Sempre brigamos com esse foco, depois, a gente entra na disciplina. Criança ou qualquer um que chegar atrasado no Instituto, seja um minuto, tem penalidade. Cinco minutos, o grupo inteiro pega a penalidade. A vida vai te ensinar que se você chegar atrasado no trabalho, você corre o risco de perder. Se você vai fazer um concurso ou um vestibular e chegar atrasado, a porta se fecha. Então, a ideia é preparar a criança para entender que horário deve ser cumprido, as regras do jogo devem ser cumpridas, e isso só vai fazer a criança prosperar. E é interessante que, alguns pais estão falando para mim que as crianças estão mudando dentro de casa também. 

CMN: E os professores, são todos voluntários? Como é a equipe?

Cleber: Tem modalidade que recebe ajuda de custo, até porque não têm condições, mas a grande maioria são pessoas que procuram doar o seu tempo que, para mim, é o bem mais precioso. Então, tem professores que falam: "Eu quero colaborar, eu doo com o eu meu tempo", e já tem gente que fala: "eu tenho meu tempo, mas eu não tenho condição para o deslocamento". A gente ajuda o professor no deslocamento. 

Como eu penso, tudo fala, tudo comunica. Então, as paredes são pintadas, sempre são limpas, os móveis são móveis de qualidade, a estrutura. Eu entendo que tudo comunica, a criança sempre vai lá, ou jovem, e vê tudo no lugar, tudo arrumado, sempre limpo. Eu e minha esposa, a gente pediu para desenvolver um perfume, levou acho  cinco ou seis meses para criar um perfume do Instituto e nós colocamos em todos os ambientes para exalar essa memória olfativa. A pessoa entra, vê tudo limpo e vê tudo organizado, em um ambiente cheiroso, ele vai fazer um grau comparativo com dentro de casa. Se não tiver, ele começa a criar o hábito de melhorar isso dentro de casa. Por isso que eu falo que o ambiente, ele comunica. 

A gente fez um estudo de tipo de iluminação, porque a ideia é que o ambiente onde eles estão sendo cuidados influenciem o ambiente dentro de casa. E o mais gostoso foi uma mãe, que, em um primeiro momento, ela tinha uma resistência com disciplina, disse que eu tinha que ser um pouco maleável. E foi um aprendizado para cuidar das emoções também. Foi muito gostoso o dia que ela falou para mim: "Olha, ela está bem na escola, mas começou a manter o quarto dela arrumado". Era uma coisa que ela não tinha hábito e começou a fazer porque o judô gerou a disciplina e o ambiente está contaminando. Isso para mim valida que o ambiente também fala.

CMN: Vocês participam do Festival Carnívoros e mais recentemente de um evento de cybersegurança. 

Cleber: O Carnívoros, na verdade, é um festival que eu comecei desde 2003 e eu doei para o Instituto. Então, toda renda, toda parceria, é destinada para manter o Instituto. Fiz permuta de fotovoltaico, de janela, de porta. O Instituto tem suas despesas. Nós criamos uma sala onde fazemos cursos, mas é uma mesa grande que comporta 15 pessoas com TV de 75 polegadas, tudo climatizado, para as empresas também alugarem. Então, eu tenho empresas que, ao invés de alugar algumas salas comerciais, eles alugam o nosso ambiente, e esse dinheiro é para manter o Instituto. Montamos também um auditório para 230 pessoas, onde temos acústica aérea, acústica no chão, foi feito o projeto de som e de iluminação. 

Eu lembro do Livro de Provérbios, que se eu não me engano, é o segundo ou terceiro pilar da prosperidade judaica, que fala: "esse será posto diante de reis e nobres". E aí eu fiquei assim comigo: "Mas por que que Deus pede para a gente ser especialista?", e se você for ver, mais de 50% dos prêmios Nobel são de judeus. Falei: "Mas se ele pede para ser especialista, deve ter algum tesouro escondido no especialista". Foi daí que nasceu a ideia. Eu contratei arquiteto, um engenheiro, esse projetista, calculista. Para o o auditório, contratei uma empresa de São Paulo de som, um dos maiores especialistas de iluminação cênica do Brasil. Eu entendi que quando você contrata especialistas de cada área é mais assertivo, economiza dinheiro e você valoriza. Então, tudo lá foi calculado. 

O maestro Lélis (Gerson) disse que não tem nenhum ambiente de Mogi com a acústica e a iluminação cênica que a gente montou. Mas por quê? Esse ambiente, eu alugo. Nós tivemos empresas que alugaram, e esse dinheiro é para ajudar a manter o Instituto. 

Eu comprei um outro imóvel no quarteirão, onde eu vou montar o bazar e o mercado social. Eu falo: "Enquanto uns sonham, eu tenho visão". A gente comprou o terreno porque o mercado social é uma que está no coração da minha esposa. As famílias que precisam ser atendidas, a gente identifica e cria uma moeda nossa, chamada "Cash Only Way". Enquanto ele estiver fazendo curso profissionalizante até arrumar um emprego, ele vai receber um valor mensal e vai no nosso supermercado fazer a compra com a esposa e os filhos. Por quê? Porque eu quero que os filhos veja o pai comprando, e não o pai ganhando. Uma cesta básica é ótimo, mas ela gera uma comunicação na vida desse homem dizendo: "Eu cheguei até esse ponto", e a criança vai crescer com aquela comunicação: "Meu pai ganhava", e a ideia é que não, "O meu pai comprou para mim". A gente não quer essa comunicação da criança de ganhar e sim que o pai comprou ali. 

A ideia do bazar é que levanta riquezas para manter esse supermercado, mas, ainda tem outra. Eu estou costurando, eu quero uma "creche" para terceira idade naquele quarteirão. Eu costumo falar que alguém chegou antes do que eu e alguém preparou o mundo para chegar o melhor, então, para mim, eles têm mais honra do que eu. Quero montar um espaço onde essas pessoas, acima de 60 anos em diante, cheguem 7h da manhã e sejam atendidos por nós até 17h, com várias atividades para não ficar na frente de uma TV. Acho que vai chamar "Creche do Diamante".

Ainda quero montar um restaurante para quem tem fome, com vestuário e uma lavanderia. Se de repente alguém ou andarilho, não importa, não esteja em condição, ele tem que ir no vestuário. Ele vai tomar banho, vai receber uma roupa e sentar à mesa. Essa roupa vai para lavanderia. Se eu precisar de roupa, ela vem do bazar. Imagine se esse senhor e essa senhora acima de 60 anos que, de repente, tem uma palavra dentro dela dizendo "Já sou inútil, eu não tenho mais serventia", porque às vezes o filho acha que ele tem que ficar sem fazer nada. Imagina eles plantando uma hortinha, ou eles fazendo comida para quem tem fome: "Eu ainda sou útil, eu ainda tenho o valor nesse mundo". A ideia é que tudo se fala.

CMN: Deixa uma mensagem final para a gente falando do projeto, chamando as pessoas para conhecerem.

Cleber: Venha conhecer o Projeto Only Way. Eu falo que a ideia do projeto é que você venha participar, seja um voluntário ou seja um patrocinador, venha conhecer. O Instituto, ele tem um slogan que é: "A arte de servir pessoas através do amor", e eu falo que o seu tempo, a sua disposição, é a maior forma de demonstração de amor ao próximo. Venha conhecer a gente.

Saiba mais

O Only Way está localizado na avenida Júlio Simões, 2.000, no Jardim Santa Tereza, em Mogi. Mais informações podem ser obtidas pelo perfil no Instagram @projetoonlyway.