O combate à fome é a base do trabalho desenvolvido pela ONG Junta Que Ajuda, que em maio completou cinco anos de ações no Alto Tietê. O novo episódio Café com Mogi News desta terça-feira (04/06), produzido com apoio da Padaria Tita, traz uma entrevista com a fundadora Fernanda Campanile. A ONG mostra como cada pessoa pode ser parte da solução, unindo não também a consciência ambiental ao transformar lacres de latinhas em alimento com a reciclagem, e recentemente arrecadando doações também para vítimas das enchentes no Rio Grande do Sul.
Tudo começou com uma insatisfação vivida por Fernanda por volta dos 22 anos. "Me veio uma sensação que eu não estava conseguindo contribuir e nem cumprir os meus acordos com Deus. Um dia perambulando nas redes sociais vi um movimento que existia com os lacres, e perguntei para um amigo que tinha uma cooperativa", contou. Ela que não tinha ideia de como funcionava transformar os lacres em dinheiro para comprar alimentos, deu início ao projeto que foi abraçado por um grupo de amigos.
A Junta que Ajuda é a primeira ONG do Brasil a reverter lacres em alimentos. "Eu percebi que era um movimento muito novo, e que eu ia ter que aprender tudo sozinha. Fui ao longo do tempo me aprimorando, me cercando de pessoas que já estavam no terceiro setor há um tempo. O Junta que Ajuda hoje é como se fosse um terceirizado, nós encontramos algumas ONGs que já fazem trabalhos bonitos dentro das comunidades e nós entramos com um movimento de alimentação, um grande Junta que Ajuda", explicou.
A entrevista foi concedida em maio, um mês especial quando a ONG completou cinco anos. "A gente foi adaptando, e os lacres sempre foram a porta de entrada, sempre chegou muita coisa, e fomos abrindo outras frentes", destacou Fernanda. Os lacres, segundo ela, vêm de diversos lugares e até de "avião". "É interessante porque a gente abre uma oportunidade para todo mundo ser pertencente, então a galera da comunidade junta os lacres. Às vezes a gente volta nas comunidades e quando chega tem aquele monte de lacres esperando. Muitas escolas conseguem participar e incluir as crianças para que elas também se sintam parte da solução", salientou.
Fernanda explicou ainda que a frase da ONG: 'Juntos somos parte da solução". "Uma pessoa só não vai mudar o mundo, a gente é bem consciente disso, mas a gente consegue mudar o nosso mundo e as pessoas que estão ali em volta, a gente consegue fazer esse movimento de incentivo", complementou.
Rio Grande do Sul
A ONG também enviou no fim de maio o quinto caminhão com doações para vítimas do desastre natural no Rio Grande do Sul. "Até tem como abastecer só com conteúdo que vem do lacre, mas demoraria muito mais tempo, então a gente abre para que as pessoas consigam doar de outras maneiras. Na primeira semana foi de tudo. Acho que com o tempo, ainda sou muito nova nesse terceiro setor, mas com um pouco de experiência dentro de grandes tragédias como essa que está acontecendo no Rio Grande do Sul, a gente aprendeu a ajudar, direcionar melhor e entender realmente o que as pessoas estão precisando", afirmou Fernanda.
No Sul, a ONG entrou em contato com pessoas do Estado e está vítimas das cidades de Canoas e Novo Hamburgo. "Em Novo Hamburgo, a gente encontrou um pessoal que está na zona rural e eles não estão conseguindo ter acesso. Nós conseguimos fazer com que o caminhão passasse ali, um dos caminhoneiros é da região, se compadeceu e nos ajudou. Nós estamos vendo para onde essas doações estão indo e é muito gratificante, parece que fecha um elo", disse.
No ano passado, a Junta que Ajuda conquistou sua sede no centro de Suzano, mas Fernanda contou que o local foi assaltado e levaram praticamente tudo. O trabalho está recomeçando nesse sentido e se uniu com outros voluntários para poder ajudar o Rio Grande do Sul.. "Aconteceu e recalculamos rota, hoje juntamos com um pessoal que já estava fazendo um trabalho de arrecadação de roupas infantis, são voluntários do Junta, e está um movimento lindo. A gente entrou também com as roupas infantis no início, com leite, fralda, porque ainda tem criança nascendo, não se para o tempo, ainda tem o movimento da vida acontecendo, e como faz, não consigo nem imaginar", disse.
Fernanda destacou a importância de ouvir e atender as pessoas em suas reais demandas: "Tanto no dia a dia no trabalho do Junta que Ajuda regularmente, é muito difícil a gente se colocar no lugar daqueles que sofrem. A gente entrega e vai embora, continuamos a nossa vida. É muito difícil ter esse senso que a gente pode entrar mais, que a gente pode conseguir mais".
Ações na região
Mesmo com pouco tempo de fundação, a ONG tem alcançado um grande impacto, somando aproximadamente 500 pessoas atendidas nas cidades da região. "A gente já perambulou muito, fora os voluntários, fora quem junta os lacres. Em uma garrafa pet são dois mil lacres mais ou menos, são duas mil vezes que alguém falou: 'isso faz bem para alguém, deixa eu tirar esse lacre'", disse.
Na rede de voluntários doadores, segundo Fernanda, mais de mil pessoas já pessaram pela ONG. Já aqueles que vestem a camisa e vão a campo nas ações, o número varia entre 50 e 100 pessoas dependendo do tamanho da ação, que pode ser a entrega de cestas básicas, um dia de atividades para crianças, entre outras atividades. "Uma ação do Junta que Ajuda forma um ser humano para o mundo, aprende de tudo", destacou. Na primeira ação foram inclusiva construídas pias ecológicas já que o local não tinha água.
As ações, de acordo com a fundadora, acontecem de dois em dois meses. "Estamos sempre fazendo alguma coisa. A gente tem um mês de captação e um mês de doação, fora as ações que não são pontuais, ajudas mensais, semanais, que não são rotuladas como missão", contou. Para as crianças, é oferecido recreação, alimentação e cestas básicas.
Com o amadurecimento do trabalho, Fernanda explicou que eles entenderam que a missão da Junta que Ajuda sempre foi e ainda é o combate à fome. "Por mais que nós estejamos ali em campo, fazendo recreação e tudo mais, no final a gente precisa entregar as cestas básicas para as famílias. Não é só aquela recreação que está acontecendo, aquelas crianças vão chegar em casa e vão ter o que comer também. A gente faz esse movimento e sempre ressalta por mais duro que seja, essa é a realidade. A gente tenta trazer um pouco mais de leveza", disse.
Com os dias mais frios e a proximidade do inverno, a ONG deve se ramificar e se dividir para manter a campanha para o Rio Grande do Sul e também as ações na região que incluem a entrega de sopa semanal e decobertores e meias. "A gente faz esse movimento de muita consciência, de que não é só vou ali ajudar, tem um porque por trás de tudo", salientou Fernanda.
Desafios e futuro
Nestes cinco anos da Junta que Ajuda, Fernanda destacou seu amadurecimento e da ONG. "Eu era uma criança de 20 anos passando por um momento bem desafiador, e hoje, longe de uma maturidade completa, mas eu vejo uma tranquilidade. Antes eu tinha uma sede, era quase um desespero em fazer e ajudar, hoje eu percebo que a minha maior utilidade é onde eu consigo ser completa. Só conseguimos ajudar onde não estamos com as mãos atadas e com os olhos vendados, onde você se coloca e se sente dessa maneira, ali não é o seu lugar, e eu tive isso muito claro", disse.
Com seu otimismo natural, a fundadora da ONG acredita em um futuro onde o trabalho de combate à fome não será mais necessário e também a força das parcerias, que ajudam e complementam. Um evento realizado em conjunto com outros projetos da região - Iluminar, Motirõ e Esperança e Destino - foi apontada como a maior ação voluntária acontecendo naquele momento na América Latina.
Para o futuro, o plano, segundo Fernanda, é continuar, atraindo mais pessoas, incentivando e influenciando para que possam dar o seu melhor com maestria. "Queremos poder conscientizar mais pessoas, dar essa ferramenta para elas de que juntos somos sim parte da solução. Às vezes o lacre parece até ingênuo quando as pessoas olham, mas é um movimento que está por trás daquilo. Você trazer esse assunto em uma roda com os amigos. Será que vocês se importam com o próximo, que têm essa consciência que tudo aqui é emprestado? Nada é nosso, a natureza não é nossa, já estava aqui antes. É justo a gente destruir tudo isso? E o que vocês fazem no fim de semana? Vamos para a comunidade ajudar, contribuir".
O grande desafio, apontado pela fundadora da ONG, é a logística para conseguir expandir os pontos de coleta para que a rede flua de forma natural e orgânica, assim como as questões burocráticas que envolvem o dia a dia e precisam do comprometimento dos voluntários.
Descubra como fazer coloborar com a Junta que Ajuda no site www.juntaqueajuda.com.br e nas redes sociais @juntaqueajuda
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