A Associação Cultural Opereta, com sede em Poá, vive um momento especial em 2024, quando completa 30 anos, atuando na formação artística, por meio de diferentes oficinas, e também abrindo caminho para novos profissionais e novas companhias da região e de outras localidades. O novo episódio do Café com Mogi News entrevista Delcimar Ferreira, jornalista que fez parte da equipe do Grupo Mogi News, e hoje é secretário da instituição, onde atuou como voluntário quando ainda era estudante. 

Como o Jornal Plural, criado pelo jornalista em 2015, um novo mundo se abriu nos campos da educação e da cultura. Ferreira cursou a pós-graduação em Educomunicação - Mídias e Comunicação, na USP, e como educomunicador, atuou em no Serviço Promocional Nossa Senhora Aparecida, em Ferraz. “É um projeto (Jornal Plural) que foi um cometa na minha vida. Foram três anos muito intensos e produzi conteúdos incríveis, alguns desses conteúdos viraram exposições. Eu vivi intensamente, era uma coisa que eu queria muito”, contou. 

A Associação Cultural Opereta, segundo Ferreira, sempre passou por sua vida na minha vida. "Este ano ela completa 30 anos de fundação e é um ano importante para nós, porque a Opereta já mudou de casa muitas vezes. Ela começou na casa de amigos, depois foi para outros locais, chegou a ir para um imóvel alugado em Calmon Viana e hoje, ela está estabelecida na antiga Biblioteca Municipal, que fica mais próximo da região central. Desde 2010/2011, se não me falha a memória, que nós estamos nesse espaço. Muita gente já passou por lá e a gente tem um orgulho muito grande de pessoas que vemos se profissionalizando no campo da arte e da cultura, pessoas que hoje estão trabalhando em São Paulo, estão em grandes companhias", conta o secretário da Opereta. 

Depois de ser voluntário, quando colaborava na comunicação da Opereta, Ferreira se afastou por conta de um trabalho em São Paulo, e entre 2015 e 2016, voltou a se aproximar, e há cerca de três anos está como secretário.  "Em uma instituição do terceiro setor, você acaba fazendo de tudo um pouco. Eu ajudo na parte da comunicação, fazendo assessoria de imprensa, e na produção cultural, que é uma coisa que eu tenho me descoberto também. Por exemplo, a gente tem um espaço cultural e para movimentar esse espaço aos finais de semana, a gente recebe muitos pedidos de grupos querendo fazer espetáculos, shows, eventos na área da cultura e aí tem que organizar essa agenda", contou. 

Em julho é o mês de aniversário da Opereta. "Vai ser um mês muito especial. Todas as atividades que vamos promover aos finais de semana, serão atividades da casa. São os próprios artistas, os grupos residentes e grupos parceiros que atuaram muito tempo na casa, e hoje estão em outros espaços. Então, vamos celebrar esses 30 anos com a nossa gente, com o nosso grupo. A gente tem a Cia. Teatro Roda Mundo, temos o Núcleo Teatral Opereta, o Johnny Oriel. São todos de Poá. A gente ainda está fechando a programação e em breve vamos divulgar. Vai ter muita coisa bacana", destacou Ferreira. 

Oficinas 

A Opereta tem diversas ações, voltadas para múltiplas faixas etárias. "Às vezes as pessoas veem a Opereta na mídia por uma determinada ação, mas, não imagina o tanto de coisas que a gente produz. A gente tem, por exemplo, as oficinas culturais que levam o nome de "Projeto Mãos à Obra" e existem desde 2010. Estamos completando 15 anos de projeto. Essas oficinas são de formação artística, então nós temos profissionais que oferecem aula de teatro, dança, música até iniciação a idiomas, por exemplo. Esse ano a gente está com iniciação ao italiano, outra demanda que a gente tinha e que conseguimos colocar esse ano foi a iniciação ao violão", explicou o secretário da instituição. 

O trabalho realizado nas oficinas é um trabalho intergeracional, como explica Ferreira, agregando tanto crianças e adolescentes, como adultos e até mesmo idosos: "É bem interessante quando fazemos o levantamento do público que está frequentando as oficinas, você vê esse arco de pessoas de diferentes faixas etárias, tendo a mesma possibilidade. Claro que cada um tem a sua necessidade, por exemplo, um jovem, de repente, sonha em sair de lá com o certificado e ir para uma escola melhor, ter um ensino técnico e trilhar essa carreira. Já a pessoa da terceira idade, talvez não tenha mais essa expectativa, mas o simples fato de ela estar ali, convivendo com outras pessoas e trocando experiências, isso é muito legal. A Opereta procura preservar isso, é uma coisa que a gente gosta muito. As pessoas que fazem as oficinas da Opereta elogiam muito esse olhar que os professores têm em trabalhar independentemente da idade".

Desafios

Para Ferreira, ao longo desses 30 anos a Opereta vem crescendo em meio a desafios e a resistência como espaço de produção e formação cultural. "Assim como toda a cultura no modo geral, a gente tem tido muitas dificuldades no campo da institucionalidade. O diálogo com o poder público, tudo isso ainda é uma coisa muito difícil, mas não é só com a Opereta, é com a cultura no modo geral. Falta esse olhar dos gestores públicos de que a cultura é investimento. Você precisa investir e a gente vê nitidamente a questão dos Orçamentos, isso em qualquer município. Geralmente, a cultura é a que tem a menor fatia do bolo". 

Dentro da instituição, o jornalista foi eleito conselheiro do Conselho Municipal de Políticas Culturais no mandato de 2021/2023: "Nesse mandato que está em vigor agora, eu precisei me afastar, mas eu sempre falo: 'eu nunca me afastei da militância'. Dentro da cultura, mesmo não estando no Conselho, estou sempre participando das discussões. Agora estamos com o projeto da Política Nacional Aldir Blanc e da Lei Paulo Gustavo. A gente está sempre fomentando e trabalhando essas discussões". 

O valor de R$ 1 milhão pela nova legislação é significativo, segundo Ferreira, levando em conta o Orçamento da Cultural em Poá que é de R$ 2,8 milhões: "A gente não pode desprezar, e, pelo menos o olhar que o Ministério da Cultura tem trazido é de cada vez mais injetar recurso na Cultura. Sobretudo, por meio dessas leis de fomento. Trazendo isso um pouco para a Opereta, a gente percebe que a Opereta cresceu, ganhou dimensões muito importantes. Até mesmo no cenário regional e fora da região. Os grupos residentes, por exemplo, já participaram de festivais internacionais de teatro, já foram para outros países. Tudo a duras penas, fazendo vaquinha, fazendo evento, bingo".

Para se manter a Opereta conta com associados e busca recursos públicos, apoios e patrocínios para suas ações. "A gente tem um grupo de apoiadores fixos da Opereta, então, há uma mescla de possibilidades que a gente vai encontrando. E tem que ficar muito atento ao mercado também, na medida em que saem editais públicos ou privados, por exemplo, saiu recentemente um edital da Petrobras, o Governo do Estado de São Paulo lançou os editais do ProAC no ano passado. Nós fomos contemplados pelo edital do ProAC do ano passado para conseguir recursos para fazer uma reforma e manutenção do espaço", contou Ferreira. O recuros deve ser usado para melhorar a infraestrutura e acessibilidade do espaço e também para uma revitalização do camarim. 

'Passos da Paixão'

Um dos destaques da Opereta sempre foi a apresentação do 'Passos da Paixão', um espetáculo que se tornou referência e uma tradição em toda a região, e assim como a Festa do Divino está incluído no calendário turístico do Estado de São Paulo. "O 'Passos da Paixão' é um dos projetos que tem maior longevidade dentro da Opereta. Nos últimos anos, nós enfrentamos muitas dificuldades financeiras. Em 2020, estávamos com um projeto assim 90% pronto, já na fase de ensaios, organizando a montagem de palco, som e luz, e veio a pandemia e tivemos que suspender tudo. Foi um baque muito grande, claro. Por tudo que a gente enfrentou naquele período, ficamos um ano sem poder realizar", explicou Ferreira. 

Apenas em 2023 foi possível voltar com o projeto. "Estávamos com muita ânsia de voltar com o projeto. Talvez, para quem não saiba, o 'Passos da Paixão' é um espetáculo ao ar livre, onde narra a história da paixão, morte e ressurreição de Jesus Cristo. Em 2023, a gente inicia os diálogos novamente tanto com a prefeitura quanto com alguns parceiros e não tivemos o respaldo necessário para realizar da mesma forma como vínhamos realizando. Mas, havia esse anseio, sobretudo do elenco e da produção que ficaram em 2020 sem participar. Na medida em que a gente vai realizando o processo de ensaio, chega um dado momento que você precisa escolher os personagens. Então, as pessoas ficam com aquela ansiedade e tem toda uma preparação. Assim, a gente entendeu que era necessário voltar às origens, o espetáculo começou na rua", contou o secretário da Opereta. 

A ideia, segundo o entrevistado, foi levar o espetáculo para uma comunidade que nunca tivesse tido acesso. "Foi então que a gente iniciou todo um trabalho comunitário dentro da Vila São Francisco, que é conhecido popularmente como Bairro Raspadão, em Poá. É uma comunidade muito carente, muito periférica, onde tem carências desde saneamento básico, iluminação pública, segurança e as ruas que não são asfaltadas. A gente fez um trabalho comunitário, fomos até o bairro, conversamos com as lideranças comunitárias, porque não queríamos que fosse um projeto imposto, a gente queria dialogar", salientou Ferreira. O projeto foi então apresentado à comunidade que abraçou a ideia e as crianças da localidade participaram de uma oficina musical para integrar o coro.  

"Foi um projeto que a gente gostou muito e que criou uma interrogação: 'que 'Passos da Paixão' a gente quer daqui pra frente?', um 'Passos' que de fato seja algo espetacular, no sentido da grandiosidade que o evento é e que representa para o município e para a região como um todo, ou esse ‘Passos’ mais 'olho no olho', mais comunitário, mais 'pé no chão' que a gente costuma dizer. Ainda não encontramos essa resposta", disse o jornalista. No momento o projeto está temporiamente suspenso. 

Futuro 

Os próximos passos da Opereta contam com novos projetos, talvez para o ano que vem, focado em crianças e adolescentes. "Tem um projeto que a gente pretende realizar que não dá para adiantar muita coisa, porque não estamos 100% fechados com ele. Mas, a meta é trabalhar mais com crianças e adolescentes, porque temos percebido muito isso, a Opereta olha muito para a realidade do momento. A gente observou um grande número de crianças e adolescentes necessitando de espaços de fruição cultural. Há uma uma crise de ansiedade muito grande entre os adolescentes nas escolas, essa coisa de ficar muito de frente as telas e tudo mais, então, de alguma forma, a Opereta se sente responsável também em querer contribuir com isso. Fazendo aquilo que ela sabe fazer de melhor, que é oferecer arte, oferecer a possibilidade da pessoa aprender algo novo", revelou.

"O adolescente precisa ter um espaço de convivência, ou um espaço de troca, um espaço de pensar nos seus valores, naquilo que ele espera, porque quem sabe a partir desse momento, que ele consegue ter esse espaço de fruição, pode exercer um pouco a desinibição também. A gente sabe o quanto o teatro favorece isso. Eu fiz teatro muito tempo atrás e isso, para mim, foi muito importante. Para nós que trabalhamos na área da comunicação, é muito importante a gente ter essa condição. O teatro ajuda em muitas coisas e muitos aspectos, na saúde mental sobretudo", contou Ferreira. 

Os interessados em colaborar com a Associação Cultural Opereta podem acessar o site associacao.opereta.org , as redes sociais @operetaoficial e o Whatsapp (11) 4634-1175. 


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