Mogi - O novo episódio do Café com Mogi News traz Roberto Lemes, presidente do Conselho Curador do Instituto Pró+Vida São Sebastião, sediado na cidade. O instituto, criado há 45 anos pelo padre Vicente Morlini, tem como principal objetivo promover o atendimento a homens e mulheres com mais de 65 anos de idade em situação de vulnerabilidade, e atualmente atende cerca de cem pessoas em Mogi das Cruzes, no litoral e na cidade de São Paulo, em instituições de longa permanência para idosos (ILPIs).

Para manter as operações, a entidade conta com a ajuda da comunidade por meio de ações de arrecadação como bailes e jantares, além do conhecido bazar instalado na região central da cidade.

O Café com Mogi News é uma iniciativa do Grupo MogiNews/DAT, em parceria com a Padaria Tita, que traz histórias e exemplos de pessoas e instituições que atuam positivamente na comunidade, com o objetivo de dar notoriedade e convidar a população a participar. Os episódios são semanais e lançados às terças-feiras em (www.portalnews.com.br) e nas redes sociais. Saiba mais sobre o trabalho de Roberto Lemes e do Instituto Pró+Vida nesta entrevista especial. 

Café com Mogi News: O instituto tem um trabalho que vem ocorrendo há mais de 45 anos, com centenas de histórias de vida que passaram por lá, de pessoas que buscaram apoio e alento. Como surgiu esta iniciativa de cuidar de pessoas vulneráveis?
Roberto Lemes: O instituto começou com uma visão do Padre Vicente Morlini de um problema que não havia antes, mas se estabeleceu agora. Ele percebeu na época que muitas pessoas dormiam na rua, na porta da igreja, e muitos deles eram idosos. Ele quis focar primeiramente na população em situação de rua com mais idade. Nisso, em 1977 ele fez uma reunião com vários voluntários para começar a dar o apoio aos idosos vulneráveis.

CMN: O Brasil sempre teve um discurso de que era um país de população jovem, e por muito tempo o olhar para o idoso foi um tabu na sociedade, algo restrito ao círculo familiar. Como foi lançar as bases de um trabalho assistencial deste porte, com o apoio da comunidade, nas primeiras iniciativas?
Lemes: O Brasil hoje não é mais este país de jovens. Um vereador de ascendência japonesa de Mogi disse certa vez que, no Japão, os idosos são respeitados, e aqui temos vergonha de dizer que temos idade. O padre Vicente era novo na cidade, e ele começou um trabalho de conseguir os meios para o atendimento, não era um instituto como vemos hoje. O famoso brechó começou com coisas que as pessoas não queriam mais, foram arrecadadas para fazer fundos, foi por meio de visitas. Assim ele conseguiu o terreno e começou a construção do que é a estrutura que temos hoje.

CMN: O instituto atua não apenas em Mogi das Cruzes. Como foi o lançamento destas novas bases?
Lemes: O padre Vicente sempre foi uma pessoa ousada, e sempre falou da Providência Divina. Ele abriu uma casa em Caraguatatuba, e outra em São Paulo. Hoje, temos duas ILPIs, sendo uma para idosos com independência, e outra para quem precisa de cuidados em tempo parcial ou integral. No começo, ele pegava um carrinho de mão para apanhar as doações, e assim foi até que o instituto consolidou seu nome, por meio do trabalho dele e de parceiros.

CMN: E hoje, quantas pessoas são atendidas pelo Pró+Vida São Sebastião? 
Lemes: Em Mogi temos 48 pessoas, em Caraguatatuba, 34, e em São Paulo, temos 17. O número de pessoas atendidas atende às normas legais em relação ao espaço, voltado para a qualidade de vida.

CMN: Nos últimos 20 anos, o Estatuto do Idoso foi um marco civilizatório do Brasil, quando reconhecemos que o país está envelhecendo e precisa dar o respeito e condições a quem tem mais de 65 anos. E o padre Vicente fez parte da elaboração deste estatuto, não é?
Lemes: Por muito tempo, o brasileiro viu o idoso como um transtorno, uma coisa que as pessoas possuem pena mas não podiam fazer nada. O padre Vicente fez parte do Conselho Estadual do Idoso, e depois atuou em Brasília na elaboração do Estatuto do Idoso.

CMN: O senhor acredita que o Estatuto consegue dar o suporte necessário para as pessoas e instituições garantirem o bem-estar das pessoas idosas?
Lemes: O estatuto foi bem elaborado, mas no futuro pode e deve ser atualizado. Poucas pessoas hoje o conhecem em detalhes, mas é preciso ter essa visão para o futuro.

CMN: O idoso vulnerável em muitos casos fica sozinho, mas há hoje muitas questões envolvendo seus parentes, e isso acaba chegando para os profissionais do instituto?
Lemes: Temos que entender que a vulnerabilidade é para além de se viver na rua. Antes os idosos não possuíam família, mas essa mentalidade mudou. Temos idosos que possuem parentes, mas eles precisam trabalhar para mantê-los, e isso é um tipo de vulnerabilidade. Há pouquíssimos casos de atrito com a família, mas acontece de forma mais velada. No entanto, acolhemos, pois queremos que ele saia de uma situação desconfortável para que venha a ser bem tratado, e temos funcionários treinados e qualificados para dar esse apoio.

CMN: O aumento do custo de vida fez com que muitos materiais e a mão de obra para cuidar dos idosos tomasse um espaço maior no orçamento das entidades. Hoje, como está a situação do instituto? O Pró+Vida conta com apoio exclusivamente da comunidade ou possui parcerias?
Lemes: Temos um convênio com a Prefeitura, que as entidades não possuem apenas para o acesso a verbas, mas para respaldo legal. O que vemos em todas as entidades é que a questão financeira piorou com a pandemia: antes faziam almoços, jantares e bingos, e era um ponto de reunião de idosos independentes, mantinha o nome em circulação na comunidade. Mas, graças a Deus, temos as redes sociais hoje para divulgar. Temos parceiros fixos, é um trabalho para campanhas, dando dignidade e mantendo o nome do instituto.

CMN: Como a população pode entrar e se engajar?
Lemes: Nosso bazar da pechincha foi um dos primeiros de Mogi e continua na rua Senador Dantas, nº 602, no centro, e temos unidades no Jardim Ivete e na Vila São Sebastião, que atendem regionalmente. As doações são sempre bem-vindas. O bazar aceita móveis, eletrodomésticos, roupas e se a pessoa quiser contribuir com itens ou financeiramente temos os contatos à disposição. Temos um número no WhatsApp específico em que a pessoa tem um contato mais direto. Tudo é bem-vindo e a gente reverte para o atendimento aos idosos.

CMN: A pandemia foi traumática para todos, tirou o chão de todos nós, mas principalmente para os mais velhos, que eram de maior risco. Como foi a experiência para o instituto? 
Lemes: A Covid-19 era uma coisa desconhecida e fomos aprendendo ao longo do tempo. Financeiramente nos impactou pelo fechamento do bazar. E tivemos um outro problema: em 2020 foi relativamente fácil pela comoção pública, pelas verbas encaminhadas, campanhas e lives. Mas em 2021 esfriou, foi entrando em uma rotina. A vacina veio e atendemos dentro dos parâmetros. Estamos financeiramente piores por conta também da inflação. Temos hoje uma fila de espera - muita gente perdeu o sustento, e estão migrando para a Assistência Social. A fila para acolhimento aumenta cada dia mais e não temos pernas para atender a todo mundo como gostaríamos.

CMN: Qual é a fila de espera para atendimento hoje?
Lemes: Temos entre 400 e 500 pessoas. Há a fila especial de quem procura a Secretaria Municipal de Assistência Social para a inscrição e gente que nem sabe que pode fazer isso.

CMN: Para o ano que vem, podemos ter uma melhoria nesse cenário?
Lemes: Sempre temos que ter esperança. Nossa grande esperança é que a Festa do Divino aconteça plenamente no ano que vem, é uma fonte de renda muito importante e ajuda ao longo do ano. Vamos retomar os bingos, jantares - isso tem um apelo importante.