O "Café com Mogi News" destaca a entrevista com o médico dr. Carlos Foganholi, que há um ano criou o Instituto Foganholi, localizado em Suzano, oferecendo atendimento médico para a população local e de outras cidades da região em clínica médica, pediatria e saúde da mulher gratuito. As pessoas são convidadas a fazer contribuições de valor simbólico para a manutenção das atividades, custeadas pelo próprio médico. Médico emergencista, dr. Foganholi atuou no Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) nas cidades de Mogi das Cruzes, Guarulhos e Mauá. É nas folgas que ele faz os atendimentos no instituto.
Na entrevista deste novo episódio do Café, com apoio da Padaria Tita, o médico fala de sua trajetória, os desafios da saúde e o trabalho que realiza no instituto, com o apoio de voluntários. O primeiro ano do instituto, segundo ele, foi espetacular. "O número de atendimentos foi muito grande, mas é o que eu digo sempre, não é o número de atendimentos, é a qualidade desse atendimento", afirmou. E sobre a Saúde de forma geral, o médico destacou que o foco deveria os maiores investimentos deveriam ser na promoção e prevenção da saúde. Saiba mais nesta entrevista especial.
Café com Mogi News: Como surgiu a ideia do Instituto Foganholi?
Dr. Carlos Foganholi: Sempre importante a gente trazer as informações, principalmente do Instituto Foganholi que faz esse trabalho filantrópico, sem fins lucrativos e foi idealizado há um ano. A gente não criou o instituto pensando financeiramente ou qualquer tipo de lucro, ou que a gente tenha qualquer tipo de vantagem. O instituto foi idealizado há mais de um ano, justamente com esse objetivo, de poder estar alcançando essas pessoas. E eu fiz isso porque muitas pessoas procuravam o Dr. Foganholi para poder ajudar como médico, aliviar uma dor, muitas vezes a pessoa precisava ver um resultado de um exame e não conseguia ter um retorno na rede básica. A gente sabe das dificuldades que não são só Mogi, Suzano e região do Alto Tietê. Acho que a nível de Brasil, a gente sabe o quanto é deficitária a rede pública, fazem o que pode, mas ainda é insuficiente para que possa suprir a necessidade das pessoas.
CMN: Qual atendimento as pessoas encontram no instituto?
Dr. Foganholi: Nós, com o instituto, organizamos isso, porque eu, sozinho, para fazer tudo isso com a demanda muito grande e a pandemia piorou bastante, porque aí as UBSs (Unidades Básicas de Saúde) fecharam, a demanda ficou muito grande. Nós esquecemos que na pandemia, nós continuávamos tendo pacientes hipertensos, diabéticos. Continuávamos tendo acidentes, então as coisas não pararam, as doenças não pararam para dar abertura para a pandemia, as doenças continuaram. E foi aí que eu montei o Instituto Foganholi para organizar o serviço com vários voluntários, pessoas de bom coração vieram junto com a gente, organizando o serviço para a gente poder ajudar mais essas pessoas de forma organizada. Hoje a gente tem em média de 10 a 15 voluntários.
CMN: Todos são médicos?
Dr. Foganholi: Eu sou o único médico do instituto, esses voluntários têm desde as pessoas da recepção, as pessoas que ligam, as pessoas que ajudam o instituto. A gente tem a nutricionista que nos ajuda; nós temos o Dr. Luiz, quiropraxista que ajuda também; tem psicólogo, então nós temos outras áreas. Fora isso, nós temos os amigos de outras clínicas que ajudam o instituto a ajudar a população.
CMN: O senhor estava falando, anteriormente, que trabalhou no Samu. Qual a sua especialidade?
Dr. Foganholi: Eu sou médico emergencista. O meu ramo sempre foi urgência e emergência, eu sempre trabalhei no Samu de Suzano, de Mogi, de Guarulhos, de Mauá.
CMN: O senhor nasceu em Suzano?
Dr. Foganholi: Não, sou criado desde pequeno. Nasci na Zona Leste, em São Miguel Paulista. Vive toda a minha infância em São Miguel e depois vim para Suzano. Depois saí e fui para Presidente Prudente, fazer a faculdade de Medicina. Quando eu terminei, voltei para Suzano e comecei a trabalhar em toda a região. O meu foco é o Alto Tietê, trabalhei em todos os lugares aqui. Sempre no atendimento pré-hospitalar, sempre ali no fio da navalha. Hoje tenho como minha especialidade médico emergencista e hoje dou plantão em UTI como intensivista no Hospital Nardini. Nas minhas folgas, dedico ao Instituto Foganholi. O instituto é em Suzano, mas ele abrange todo o Alto Tietê, a gente tem muita gente de Mogi, Itaquá. Nas quintas-feiras, chega ônibus, van, e a gente atende mais de 100 pessoas.
CCMN: É mediante agendamento? Como funciona?
Dr. Foganholi: As pessoas ligam avisando que vão, porque eu sozinho para atender todo mundo não é fácil. Porém, se as pessoas agendarem, elas vão ser atendidas, se elas não agendarem e chegarem lá, elas vão ser atendidas. Hoje, nós estamos atendendo em média de 1.500 pessoas por mês, de forma gratuita. A gente pede uma colaboração para manter o instituto e poder pagar as contas.
CMN: Como você avalia esse primeiro ano do instituto? O que você planeja para o futuro?
Dr. Foganholi: A intenção é a gente cada vez ampliar, melhorar, aumentar para conseguir chegar no nosso grande objetivo que é atender mais e mais pessoas. Esse primeiro ano foi espetacular, realmente supriu, passou de tudo que a gente podia imaginar. O número de atendimentos foi muito grande, mas é o que eu digo sempre, não é o número de atendimentos, é a qualidade desse atendimento. Apesar de ser muita gente, lá nós temos um diferencial muito grande. Nós estamos lá porque a gente gosta, porque a gente quer. A gente sente essa vontade de estar junto às pessoas sem ganhar um tostão, então você vê a diferença.
CMN: Como o senhor avalia a saúde na região?
Dr. Foganholi: Na minha opinião, em relação à saúde, ela é muito precária, porque, infelizmente, os governantes têm uma visão errada, no meu ponto de vista. As pessoas investem muito dinheiro na doença, eu gostaria de investir na saúde, na promoção da saúde, na prevenção. É muito mais barato você investir o dinheiro num paciente hipertenso com as melhores medicações, com mais recurso para essa pessoa, porque não é só anti-hipertensivo, é mudança de qualidade de vida, é mudança de alimentar. Você precisa de pessoas multidisciplinares. Precisa de psicólogo, nutricionista, endócrino, cardiologista e vários setores da medicina para ajudar essas pessoas.
CMN: Também tem o desafio de vagas na rede pública.
Dr. Foganholi: É difícil a vaga, porque são limitados os leitos, sai muito caro e o sofrimento é muito maior. Então, se eu investir para ele não infartar, todo mundo ganha, principalmente o paciente, porque ele não vai ter todo esse problema.
CMN: É um cuidado que começa na infância?
Dr. Foganholi: Na infância é a melhor maneira de conseguir abrir esse leque de possibilidades, de levar a informação. Muitos pacientes sentam lá, eu passo pouco remédio e converso muito, porque eles não sabem a necessidade de tomar a medicação no horário certo. Eu acho que falta tempo, condições, informação, orientação. O Instituto Foganholi faz isso, o nosso diferencial é esse acolhimento, que você recebe o paciente com carinho e o problema do paciente é nosso também.
CMN: E quem quiser colaborar com o Instituto ou se tornar voluntário, o que deve fazer?
Dr. Foganholi: Entra em contato com o Instituto, vai lá, toma um café, conhece o pessoal. Nas quintas-feiras a gente recebe ônibus e vans na parte da tarde, é bem corrido, e a gente precisa desses voluntários. E saiba que é um trabalho que não tem remuneração, colocamos o coração em primeiro lugar. Tem sido um sucesso, as pessoas têm gostado muito. E o que a gente quer fazer, quando você me pergunta sobre esse primeiro ano, é ampliar isso, trazer o Instituto Foganholi para outras regiões.
CMN: Quais os projetos para o futuro?
Dr. Foganholi: A gente tem sim algumas coisas. Somos grandes sonhadores. A gente sempre sonha com o que há de melhor. A minha vontade não era de ter um instituto, era ter um hospital para que pudéssemos realmente ajudar as pessoas com tomografia, ressonância, exames. Minha vontade e meu sonho, era que tivéssemos mais condições e pudéssemos ampliar. Para isso eu preciso de quê? Preciso de empresários, prefeituras, dos governantes, dos vereadores. Os candidatos para deputado estadual e federal, que tenham essa visão. Que possam pegar, por exemplo, o Instituto Foganholi, e trazer condições. Porque o projeto nós temos para ampliar, aumentar e melhorar, e para que eu possa estar trazendo outras pessoas para ajudar.
CMN: O senhor chegou a procurar as Prefeituras?
Dr. Foganholi: Têm Prefeituras que ajudam a gente com o que eles podem. Mas para ampliar e ter mais condições é complicado, eles têm as restrições deles, sabemos como é. Porque aqui, o Instituto, está ajudando a rede pública. Eu atendo clínica médica, pediatria e saúde da mulher, como se fosse um posto de saúde. A população merece mais, necessita mais, e isso a gente tenta fazer com a rede privada, amigos meus, que a gente tenta ajudar. Temos várias clínicas em Suzano que nos ajudam muito, por vezes até, com preços irrisórios.
CMN: Como as pessoas podem se associar ao instituto?
Dr. Foganholi: Entra em contato com o Instituto, faz a carteirinha que eles mandam tudo direitinho. Você sendo associado, todo mês, você colabora com R$ 10 para ajudar o Instituto. Nós temos um plano familiar que sai R$ 5 por pessoa; são R$ 25 no final do mês. E você pode usar o Instituto e todos os seus aspectos.
(Colaborou Gabriel Vicco Amaral e Geraldo Campos)