No Dia Mundial das Abelhas, os especialistas alertam que as guerras, os microplásticos e a iluminação noturna das cidades estão entre as ameaças à população deste inseto, que é crucial para a biodiversidade. A solução para estes problemas está nas mãos dos tomadores de decisões políticos, alertam os autores de um relatório publicado nesta terça-feira (20) pela Universidade de Reading, no Reino Unido. Os cientistas enumeraram, neste estudo, as 12 maiores ameaças às abelhas na próxima década. Entre elas estão guerras e conflitos globais, como a da Ucrânia, que obrigou os países a plantarem menos tipos de culturas, deixando esses insetos polinizadores sem alimentos diversificados. Os pesquisadores descobriram ainda que as partículas de microplástico estão contaminando as colmeias de abelhas em toda a Europa. A luz artificial de postes de rua reduz em 62% as visitas de abelhas noturnas às flores - Rovena Rosa/Agência Brasil Os testes realizados em 315 colônias de abelhas revelaram a presença de materiais sintéticos, como o plástico PET (polietileno tereftalato), na maioria das colmeias. Verificou-se também que a luz artificial dos postes de rua reduz em 62% as visitas às flores pelos polinizadores noturnos. Os antibióticos utilizados na agricultura são outra ameaça, tendo sido detectados nas colmeias e no mel. Segundo os cientistas, estes medicamentos afetam o comportamento das abelhas, reduzindo a sua procura por alimentos e as visitas às flores. Os pesticidas também representam um risco para estes insetos. Embora a regulamentação imponha que alguns agrotóxicos sejam usados dentro de limites "seguros" para as abelhas e outros animais selvagens, a pesquisa descobriu que podem interagir com outros produtos químicos e causar efeitos perigosos. A poluição também vem afetando a sobrevivência, a reprodução e o crescimento das abelhas, assim como os incêndios florestais “maiores e mais frequentes, que destroem habitats e dificultam a sua recuperação”. Soluções Identificar novas ameaças e encontrar formas de proteger as abelhas a tempo "é a chave para prevenir novos declínios” dessa população, explica Simon Potts, o principal autor do relatório intitulado Ameaças Emergentes e Oportunidades para a Conservação dos Polinizadores Mundiais. “Não se trata apenas de uma questão de conservação. Os polinizadores são fundamentais para os nossos sistemas alimentares, a resiliência climática e a segurança econômica. Proteger os polinizadores significa protegermo-nos a nós próprios”, alerta. Segundo a equipe de cientistas, o primeiro passo para proteger as abelhas é impor leis mais firmes para limitar a poluição com antibióticos que ameaçam a saúde destes insetos. Em segundo lugar surge a transição para veículos elétricos, de modo a reduzir a poluição atmosférica. Abelha africana ou africanizada (Apis mellifera scutellata) Várias espécies de abelhas estão ameaçadas de extinção em todo o mundo, tanto pela perda de seu habitat natural quanto pelo uso excessivo de agrotóxicos – Juca Varella/Agência Brasil As soluções apontadas seguem com o “cultivo de culturas com pólen e néctar melhorados para uma melhor nutrição dos polinizadores”, a criação de habitats ricos em flores nos parques solares e o desenvolvimento de “tratamentos à base de RNAi (ácido ribonucleico), que atacam as pragas sem prejudicar os insetos benéficos”. Proteger as abelhas sem ferrão – importantes para a polinização nos trópicos – através da criação de jardins urbanos, do reflorestamento e da proteção dos habitats naturais é outra das soluções apontadas, assim como a utilização de Inteligência Artificial para ajudar a localizar os polinizadores. “As ações individuais, como fornecer alimentos e áreas de nidificação nos nossos próprios jardins, podem ajudar muito. No entanto, as mudanças políticas e as ações individuais têm de trabalhar em conjunto para que tudo, desde jardins e chácaras até espaços públicos e paisagens mais amplas, possa tornar-se habitats favoráveis aos polinizadores”, defende Deepa Senapathi, coautora do estudo. Relacionadas Caminhos da Reportagem mostra impacto dos microplásticos na saúde Cientistas analisam microplásticos em fezes de pinguins na Antártica