Treze processos criminais e cinco anos detido em sistema prisional. A ficha é extensa, mas quem responde por ela é uma pessoa inocente, absolvida pela Justiça em todos os processos. Cláudio Júnior, jovem negro, teve sua foto tirada sem consentimento pela polícia aos 16 anos. Foi o bastante para ser apontado erroneamente como autor de crimes durante processos precários de reconhecimento fotográfico feitos pela polícia. Apesar de ter a inocência comprovada, foto e passagem pela polícia continuam nos arquivos de delegacias. O que significa ter de conviver com uma marca permanente na vida. “Sempre tenho problemas. Quando sou parado pela polícia, tem constrangimentos. Perguntam se tenho passagem. E eu tenho que responder que sim, mesmo sendo inocente”, conta Cláudio. “Atrapalha bastante em relação a emprego também. Tem aplicativos que não consegui me cadastrar até hoje. Não fui aceito. E isso tem me atrapalhado bastante financeiramente, mas é algo que eu espero superar”. Reconhecidos Cláudio é um dos quatro homens negros protagonistas do documentário Reconhecidos, que estreia nesse sábado (5) no Festival É Tudo Verdade. Estão previstas exibições no Rio de Janeiro e em São Paulo. “Aceitei fazer parte do documentário para que o meu caso ganhe mais visibilidade. E também para ajudar todos que estão passando por isso. E para que chegue até as autoridades, e que possa ser revista a forma como o reconhecimento fotográfico tem sido utilizado”, diz Cláudio. O documentário Reconhecidos tem 110 minutos de duração e é uma coprodução da Cardume Filmes e da Produtora Viralata. Ele é dirigido por Fernanda Amim e Micael Hocherman, com produção de Gabriel Correa e Castro, Rafael Machado, Fernanda Amim e Micael Hocherman. Racismo institucional A obra se propõe a apresentar casos de pessoas que foram condenadas de forma errada por meio do reconhecimento fotográfico. Por meio dessas histórias, se coloca o debate sobre erros do judiciário, racismo estrutural e institucional, além da ausência de reparação para as vítimas e as implicações sociais das condenações na vida delas, conforme explica Fernanda Amim, advogada e diretora do filme. “Nosso objetivo é sensibilizar e aproximar mais pessoas para esse debate. Para que a gente repense o nosso sistema de Justiça e o torne mais inclusivo, menos tendencioso ao erro, principalmente aquele que é direcionado a um grupo racial específico." "A gente espera que esse documentário sirva para mudar essa imagem do criminoso que existe socialmente”, diz Fernanda. A diretora entende que existe um comportamento de resistência de juízes e promotores em rever o reconhecimento fotográfico como prova suficiente de condenação. “Por que nós, como sociedade, aceitamos que para determinada parcela da população seja aplicado esse procedimento? Não é porque uma pessoa apontou de qualquer jeito para uma foto, que alguém pode ser preso. Elas, muitas vezes, são pressionadas pela polícia a apontar alguém”, pondera Fernanda Amim. “O reconhecimento fotográfico, da maneira como é feito aqui no país, é ruim para todo mundo. Para a vítima, que depois de inocentada não tem reparação; e para a sociedade, porque quando alguém é preso injustamente significa que outros verdadeiramente culpados estão soltos, cometendo outros crimes”, complementa. Serviço Exibição no Rio de Janeiro Local: Sessão na Estação Net Botafogo Data: sábado (5) Horário: 16h30 Endereço: Rua Voluntários da Pátria, 88 - Botafogo Local: Sessão na Estação Net Rio Data: 13/04 Horário: 18h Endereço: Rua Voluntários da Pátria, 35 - Botafogo Exibição em São Paulo Local: Sessão na Cinemateca Brasileira - Sala Grande Otelo Data: 08/04 Horário: 19h30 Endereço: Largo Senador Raul Cardoso, 207 - Vila Clementino Local: Sessão no Instituto Moreira Sales - IMS Data: 11/04 Horário: às 20h30 Endereço: Avenida Paulista, 2024 - Bela Vista Relacionadas Festival É Tudo Verdade exibe 85 documentários a partir desta quinta São Paulo e Rio recebem a 30ª edição do É Tudo Verdade, em abril