Em um palco de TV escurecido, uma mulher testemunha perante juízes sobre como seu chefe no campo de extermínio nazista de Auschwitz, Boger, matou um menino recém-chegado. "O menino estava ali com sua maçã. Boger foi até a criança, pegou-a pelos pés e bateu sua cabeça contra a parede do quartel", relembra a mulher enquanto a câmera passa por Boger, sentado atrás dela, com o rosto impassível. "Desde então, nunca mais quis ter um filho." O depoimento dela é um dos vários de réus e testemunhas reencenados em The Investigation, um novo filme do diretor alemão RP Kahl baseado em uma peça de mesmo nome que dramatiza os julgamentos de 22 funcionários de Auschwitz em Frankfurt de 1963 a 1965. Os testemunhos desses julgamentos dão apenas uma pequena ideia do sofrimento vivido por cerca de 1,3 milhão de pessoas enviadas a Auschwitz, na Polônia ocupada pelos nazistas, como parte da "Solução Final" de Adolf Hitler para aniquilar os judeus europeus. "O que mais me intrigou na peça foi sua capacidade de retratar Auschwitz sem a necessidade de imersão total em sua realidade inimaginável", afirmou Kahl à Reuters em Berlim. Kahl disse que optou por um estilo cinematográfico mais contemporâneo para atrair os espectadores mais jovens: "Filmamos em um estúdio de televisão com várias câmeras para criar uma experiência visual imersiva. Nosso objetivo foi evitar a criação de um drama histórico." De olho no 80º aniversário da libertação de Auschwitz pelas tropas soviéticas, em 27 de janeiro, Kahl disse esperar que seu filme facilite o envolvimento de uma nova geração com o Holocausto, à medida que o número de sobreviventes está diminuindo. The Investigation também é um lembrete da importância de manter uma sociedade liberal e democrática e da vigilância constante necessária para evitar a recorrência de atrocidades como Auschwitz, declarou ele. "O filme transmite a mensagem de que todos nós temos um papel a desempenhar na formação de nossa sociedade e na prevenção da repetição de tais horrores", disse o diretor. Seis meses após sua estreia na Alemanha, o filme de quatro horas será exibido para os israelenses em Tel Aviv na segunda-feira, dia do 80º aniversário, e sua estreia internacional está marcada para 31 de janeiro no festival de Roterdã, na Holanda. É proibida a reprodução deste conteúdo. Relacionadas Gesto de Musk em festividade da posse de Trump é alvo de críticas