Quando buscamos o significado da palavra mentira, percebemos que é tudo aquilo que se coloca como o contrário da verdade. É fraude, ilusão, ou seja, uma junção de atributos negativos e prejudiciais. Da mesma forma, no sentido bíblico, a coisa não é diferente. Desde o Velho Testamento, em Levítico 19:11, o Senhor já teria dito a Moisés para o povo não furtar, nem mentir, nem usar de falsidade cada um com o seu próximo.

O importante teólogo e filósofo Santo Agostinho, respeitado por católicos, cristãos ortodoxos e cristãos protestantes, manifesta preocupação sobre o tema em dois textos: Sobre a Mentira (De Mendacium) e Contra a Mentira (Contra Mendacium) e sua conclusão, por mais que pareça obvia, é que se algo não é verdadeiro, só pode ser falso.

Pois ocasião da eleição de 2022, como desde antes desse período já vivíamos um tempo muito caracterizado pelas famosas Fake News, o TSE (Tribunal Superior Eleitoral) propôs naquele momento, um termo de cooperação com entidades, políticos e representantes religiosos, como forma de reduzir uma prática que é tão nociva ao país. “Promover ações de conscientização relacionadas com a tolerância política, a legitimação do pensamento divergente e consequente exclusão da violência como aspectos indispensáveis à preservação da paz social,” cita trecho do documento. 

A iniciativa foi carregada de boas intenções. Afinal, o compromisso com a verdade deveria ser um valor defendido por todos os que querem o bem do país e de seu povo. Ações baseadas na mentira, na informação falsa não contribuem para um bom ambiente social. Isso também vale para as teorias conspiratórias e a negação do conhecimento acumulado pela ciência. 

Os termos dessa proposta foi encaminhada para ao menos um representante de destaque de cada religião, matriz africana, budista, católica, espírita, israelita, muçulmana e evangélica, solicitando adesão ao termo de cooperação. Dos 33 líderes ou representantes de entidades religiosas, apenas 13 sinalizaram apoio efetivo. De todas elas, as resistências são maiores no meio evangélico. 

Não é impossível viver o cristianismo sem o compromisso com a verdade. Quando alguém se intitula de cristão e flerta com a mentira, esse é tão falso quanto a mentira. Isso não vale apenas para as lideranças religiosas. Seus seguidores também deveriam estar subordinados a tal compromisso.

Para o espanto de quase ninguém, André Mendonça, o ministro terrivelmente evangélico, indicado ao STF pelo ex-presidente, afirmou o seguinte: “Por si só, mentir é errado, mas não é crime”. Ele errou de forma indubitável. O Art. 138 define a mentira como crime, prevendo detenção de seis meses a dois anos de detenção e multa. E onde fica o pecado nessa história?   

É bom lembrar que Jesus disse: “Eu sou o caminho, a verdade e a vida” (João 14:6). E o que não obedece ao critério da verdade sucumbe na teia da mentira. 

 

Afonso Pola (acelsopp@gmail.com) é sociólogo e professor