Em uma entrevista recente, o ministro Luís Roberto Barroso, disse que o mundo do trabalho mudou e que a ideia do empregado celetista talvez não seja mais a dominante. Traduzindo, ele disse que o excesso de proteção desprotege o trabalhador.
Para ele, o novo cenário com mais presença do empreendedorismo e de aplicativos como Uber e iFood impôs novas realidades. Ele defende que, em certos casos, é preciso pensar uma forma de proteção social diferente da tradicional. Na visão dele, motoboy e ciclista boy, geralmente famintos que carregam comida para entregar para outros, que muitas vezes são ofendidos como tanto se noticia, são esse nome mágico que os cínicos inventaram “empreendedores”.
Pois é. Não faz muito tempo que o Arminio Fraga, ex-ministro no governo do FHC, homem de confiança do mercado financeiro, fez a indecorosa sugestão de que o salário mínimo deveria ficar sem aumento por 6 anos.
O Barroso é ministro do STF. O judiciário é uma das carreiras mais beneficiadas na remuneração, bem como nos chamados “penduricalhos”. Chegam a ser indecentes. Já o Arminio Fraga é rentista. Homem que ganha milhões especulando. Como todo especulador, ganha muito dinheiro sem produzir nada. Só com especulação, muitas vezes causadas por informações privilegiadas e fraudulentas.
Nosso país tem apenas 55 bilionários, isso acordo com a lista da Forbes de 2025. No entanto, quando vemos a quantidade de pessoas que defendem os interesses dos bilionários brasileiros, podemos cair no erro de imaginar que eles são milhões.
Quando percebemos o esforço do governo em isentar do imposto de renda quem ganha até 5 mil reais, compensando a perda de receita com uma tímida taxação do 1% mais ricos do país, a resistência de uma horda de deputados, representantes de milhões de eleitores (boa parte deles paupérrimos), é algo surreal.
Mas não é só no parlamento. Boa parte da grande mídia brasileira, faz coro com esses deputados. Mas é compreensível. Alguns dos donos dessas redes pertencem ao seleto grupo. Usam aquilo que é uma concessão pública de forma criminosa para defender seus interesses econômicos.
O Brasil tem hoje uma das menores taxas de desemprego da sua história. E a maior parte dos empregos gerados estão na economia formal. Apresenta também um forte crescimento do PIB, 2023 e 2024 superando todas as estimativas de um mercado financeiro “isento que nem um tal juiz”. Os salários com aumentos acima da inflação. E o mercado financeiro, a grande mídia e seus papagaios ficam destilando pessimismo.
Nossa elite é de uma depravação desmensurada. Ela não desistiu da senzala e quer que continuemos nela.
Afonso Pola (acelsopp@gmail.com) é sociólogo e professor