Ultimamente temos convivido com coisas estranhas e incompreensíveis aos olhos de quem é razoável. E o que é pior, parte da nossa sociedade tem naturalizado verdadeiros absurdos.
Para esse segmento, a mentira que sempre foi vista como algo vergonhoso, suficiente para fazer com que uma pessoa perdesse a credibilidade, hoje é saudada fervorosamente por muitos. Quem não se lembra do vídeo de Nikolas Ferreira dizendo, entre outras inverdades, que o PIX seria taxado. Pois bem, o vídeo teve mais de 300 milhões de visualização e, por mais que muitos se manifestaram acusando a fraude, mas muitos visualizadores o reproduziram e, outros tantos acreditaram que aquilo era verdade.
Durante as investigações conduzidas pela Polícia Federal, sobre as diversas ações que colocaram em risco a nossa democracia, foi descoberta a chamada “operação Punhal Verde Amarela”, que consistia em um plano para matar o presidente, o vice-presidente e o ministro do STF, Alexandre de Moraes. E pasmem, tal iniciativa também foi naturalizada por um segmento que inclui pessoas que dizem falar em nome de Deus.
Mas a escalada de absurdos não parou por aí. Com criação em 2019 e implementado em 2020, inauguramos o chamado orçamento secreto. É a destinação de recursos públicos através de emendas parlamentares, conhecidas como emendas de relator. É um expediente caracterizado pela falta de transparência na destinação desses recursos, já que a autoria das emendas não é divulgada, e o destino do dinheiro fica a cargo do relator do orçamento, sem identificação do parlamentar que solicitou o recurso. Ou seja, agentes públicos que se elegeram para representar os interesses do povo, escondem do povo o destino do dinheiro que é público, e ainda criam amarras que impedem que o executivo possa desenvolver mais e melhores políticas públicas.
E agora veio a cereja do bolo. Enquanto os EUA nos ameaça com um tarifaço de 50% e sugere retaliações a algumas autoridades brasileiras, uma parte da sociedade festeja tal investida. Tanto é que temos um carioca, que se elegeu deputado por São Paulo e que pouco trabalha, que está desde início do ano lá, conspirando contra nossos interesses colocando os interesses familiares acima dos interesses da nação. E esse congresso omisso, finge que nada está acontecendo.
Para fechar esse circo de horror, a fala do Eduardo Bolsonaro em entrevista na CNN: “se houver o cenário de terra arrasada pelo menos eu estarei vingado desses ditadores de toga”.
Eles, que quiseram dar um golpe para permanecer no poder, acham que quem segue e defende os preceitos constitucionais é que são ditadores. Patético.
Afonso Pola (acelsopp@gmail.com) é sociólogo e professor