Em 25 de abril de 2025 faleceu o Francisco. Nascido como Jorge Mario Bergoglio na capital argentina, em 17 de dezembro de 1936, ao ser eleito Papa, adotou o nome de um santo franciscano, apesar de ser jesuíta. 
Como foi registrado, logo após o resultado do conclave que o escolheu como Papa, tal escolha foi inspirada pelo cardeal brasileiro dom Cláudio Hummes que, ao abraçar Bergoglio disse: "Não se esqueça dos pobres", o que o remeteu à figura de São Francisco de Assis.

Talvez o santo mais popular da Igreja Católica, São Francisco fez um gesto ousado ao se despir em público. Mas a maior transgressão de Francisco não foi o fato de ficar nu, mas sim a decisão de não estar mais preso aos bens materiais, mesmo vivendo em um mundo em que as posses e o poder definiam a importância de uma pessoa.

O Papa Francisco não foi apenas mais um Papa, o 266º da história da Igreja Católica. Ele foi “O Papa”. Dedicou seu pontificado aos mais necessitados, assim como São Francisco. Ele também foi responsável por uma considerável mudança nas estruturas internas da igreja.

O legado de seu papado inclui a transparência nas finanças da igreja através da ampla reforma no Banco do Vaticano, reforma essa que acabou revelando a existência de 1,1 bilhão de euros em ativos não declarados. Também faz parte desse legado, ações que promoveram uma maior democracia nas instâncias que tinham protagonismo nas tomadas de decisões do seu pontificado.

Francisco, em suas reformas, buscou romper com a lógica de uma Cúria que havia optado por preservar seus privilégios e poderes, em detrimento de sua doutrina social pelo mundo. Denunciou a hipocrisia de líderes políticos e religiosos, e por isso foi odiado por aqueles que instrumentalizam a fé.

Em um mundo tão caracterizado por uma violência que atinge em cheio os mais vulneráveis, pela intolerância contra minorias, pelo preconceito e pela crueldade da fome que atinge a tantos, Francisco se dedicou a combater essas práticas, fazendo de forma muito clara a opção pelos desvalidos. Nunca a igreja esteve tão próxima dos oprimidos de toda espécie.

A comoção sentida pela grande maioria das pessoas mundo afora não deixa dúvida em relação ao seu carisma. As ruas lotadas de Roma para dar o último adeus se transformaram num testamento vivo do papa. Suas escolhas simples para a cerimônia de seu funeral, foi mais um gesto a reafirmar sua opção pelos humildes.

Enquanto isso no Brasil, acompanhamos pessoas odiosas festejando a morte de alguém tão integro e tão solidário com aqueles que sofrem. Muitos deles charlatães que vendem esperança como política pública. Pessoas que usam a fé para legitimar a discriminação, o racismo e a violação aos direitos humanos.

Que país é esse?

Afonso Pola (afonsopola@uol.com.br) é sociólogo e professor