Mundo estranho esse no qual estamos inseridos. Muitos intelectuais afirmam que estamos sob o domínio do “pós-verdade”. Um período em que notícias falsas são difundidas e aceitas para a solidificação de crenças que, para muitos, importam muito mais do que a veracidade dos fatos em si. É inegável que o advento da internet tem uma relação direta com a potencialização do alcance dessas notícias falsas.
Mas não são só as fakes News que encontram um terreno bem fértil nessa realidade. O negacionismo e o conspiracionismo também se aproveitam desse caldo de cultura. O discurso negacionista busca colocar em dúvida fatos já devidamente comprovados pela ciência. E a ocorrência da pandemia de covid-19 nos mostrou de forma muito clara como isso pode ser prejudicial. É impossível precisar o número de pessoas entre os quase 700 mil mortos que poderiam continuar vivos caso seguissem as recomendações indicadas pela ciência.
Comportamento esse motivado pelo discurso daqueles que questionavam o uso de máscaras, o distanciamento social, a eficácia das vacinas e que optaram pelo uso de medicamentos não indicados para o prevenção e/ou tratamento dos males causados pelo vírus. A demora no processo de aquisição de vacinas pela área de saúde do governo passado foi determinante para que o número de mortos fosse tão elevado.
Nessa mesma linha das fake News e do negacionismo, intensificou-se também o conspiracionismo. Teoria da conspiração, também chamada de teoria conspiratória, é qualquer forma de tentar entender ou explicar algo, tendo como princípio que a sua natureza é secreta e parte de um plano conspiratório.
O maior problema disso tudo é que, uma vez consumida como critério de verdade, a notícia falsa ganha vida na cabeça de muitos. O mesmo acontece com o negacionismo e o conspiracionismo. Esses fatos produzem efeitos no comportamento das pessoas. Hoje, aproximadamente 40 milhões de brasileiros acreditam que vacinas fazem mal às crianças, que a terra é plana e ainda, cerca de 57 milhões duvidam que o homem foi à lua.
Como vivemos em um país majoritariamente cristão, a criação e compartilhamento de mentiras por esse numeroso segmento da população, notadamente inclui entre eles, muitos que se declaram como tal, o que é uma profunda contradição, pois desde o Velho Testamento, em Levítico 19:11, o Senhor já teria dito a Moisés para o povo não furtar, nem mentir, nem usar de falsidade cada um com o seu próximo.
Tempos estranhos e com gente esquisita, para não dizer outra coisa.
Afonso Pola é sociólogo e professor