Uma matéria publicada na Folha de São Paulo, indicada por uma amiga e leitora das minhas colunas, me inspirou a continuar escrevendo. A reportagem abordava o crescimento do "slow reading", ou seja, de leitores que apreciam textos longos, cujos conteúdos são amplamente apurados, abordados e narrados. Aqueles que não se contentam com as leituras de cinco minutos, reels e shorts de um minuto, os áudios e vídeos que "pipocam" no ambiente digital.
Leitores que não se satisfazem com as informações "pinceladas", disparadas pelos feeds das redes sociais. Desejam ir além dos títulos, dos leads, das chamadas que apresentam as notícias diárias, pois prezam pela grande reportagem, por textos mais elaborados e até opinativos. Valorizam o jornalismo literário, investigativo e científico, reconhecem o trabalho da Imprensa e dos autores que se comprometem não só em informar como também transmitir conhecimentos e semear aprendizados.
Em tempos acelerados, eles dedicam minutos a mais de seus dias, para que, em meio às leituras, rigorosamente selecionadas, encontrem profundidade nos assuntos, envolvimento nas temáticas, aprendizado com o que se lê. Trata-se de um grupo seleto, não vamos negar. Afinal, segundo os últimos dados do IBGE (2022), ainda existem no Brasil 11,4 milhões de pessoas acima de 15 anos que são analfabetas.
Embora a taxa venha diminuindo ao longo dos anos, os 7% que atingem a população precisam ser superados, com novas oportunidades para garantir a leitura e escrita, assim como o incentivo em colocar essas práticas em ação cotidianamente, e não apenas no período de escolarização. Isso porque ler é primordial para aprimorar o repertório cultural, promover o senso crítico, criativo e participativo, ampliar a visão de mundo.
Que o movimento "slow reading" alcance novos públicos, para que o alfabetismo – tanto o absoluto quanto o funcional – possa ser superado e o letramento alcançado. Diante da avalanche informacional, que o "algo a mais" volte a ser premissa para se sentir, de fato, informado sobre algo. Não se contente com o que aconteceu, mas, também, como, com quem, por quê? Por mais profundidade e menos superficialidade.
Suéller Costa (sueller.costa@gmail.com) é jornalista, pedagoga, educomunicadora e pesquisadora. Doutoranda em Educação (FEUSP). Mestre em Ciências da Comunicação (ECA/USP). Especialista em Educomunicação (ECA/USP). Sócia da ABPEducom e APEP. Idealizadora do Educom Alto Tietê. Contatos: @educomaltotiete; @suellercosta