O universo da política brasileira não tem produzido coisas boas para a sociedade. É justamente isso que tem motivado o desprezo das pessoas pela atividade política, mesmo sendo ela imprescindível à democracia. Na medida em que esse sentimento se generaliza causando o divórcio da sociedade com a política, mais essa atividade se deforma e se transforma em espaço para a realização de interesses espúrios de pessoas ou grupos. A política, atividade fundamental para a construção e fortalecimento da democracia, torna-se um verdadeiro balcão usado para deploráveis negociatas.

Esse diagnóstico é muito preocupante, pois tal perspectiva reduz de forma desproporcional a importância da atividade política para a humanidade e para a democracia. Afinal, a história nos mostra que foram as batalhas políticas vivenciadas nos séculos XIX e XX que propiciaram conquistas fundamentais como a abolição da escravatura, o sufrágio universal, o voto feminino e os direitos trabalhistas.

Mesmo diante do fato de convivermos naturalmente com tais conquistas, não foi sempre assim. Nenhuma delas caiu do céu, nem foi fruto do acaso ou da benevolência dos donos do poder econômico. Foram conquistas alcançadas via organização política e muita luta. O surgimento da república e o processo de democratização afirmados em diferentes países resultaram da participação política dos trabalhadores e de outros segmentos da população.

Desde o advento da Revolução Industrial ocorrida na segunda metade do século XIX, a política tem sido o grande contraponto do mercado, principalmente a partir de 1917. Mesmo com todos os seus problemas (e não foram poucos) a afirmação da União Soviética e do Bloco Socialista na primeira metade do século XX foi responsável por algumas concessões do sistema capitalista. O Estado de Bem-estar Social (Welfare State) disseminado por diversos países europeus e a ação de alguns governos da América Latina (como Peron e Vargas), caracterizados de “populistas”, são evidências disso.

Todo o discurso que banaliza a atividade política, que generaliza práticas que não são de todos os que vivem nesse ambiente, não interessa ao conjunto da sociedade. Esse discurso é do interesse daqueles que justamente se beneficiam do distanciamento das pessoas do universo da política.

É justamente por isso que a reforma política, que tem sido um tema recorrente na vida política brasileira, mas sempre adiada, tornou-se ainda mais necessária e urgente. Ela é o único mecanismo capaz de devolver a devida importância a uma atividade tão dilapidada.

Afonso Pola (afonsopola@uol.com.br) é sociólogo e professor