A poesia da vida é ter um olhar exultante nas pequenas coisas que Deus fez. Flores do campo que hoje enchem nossos olhos de tantas cores e nosso olfato de tão perfumados odores, mesmo que amanhã murchem e enrugam a sua beleza tão passageira. Passarinhos em seus trinados melodiosos nos alegram quando ouvimos seus variados cânticos. Flores para enfeitar, frutos para saborear, grãos para colher e nos alimentar. Vivemos numa reta insípida de alcançar metas, e perdemos ao longo do caminho da vida as curvas do prazer.
Federico Fellini, famoso diretor do cinema italiano, em entrevista lhe perguntaram, levando em conta que tinha convivido com muitas mulheres lindas, qual seria sua definição de beleza, ele respondeu: "A reta é a menor distância entre dois pontos, mas na curva está a beleza". Os homens no afã de economizar o tempo elegem a reta do lucro e desprezam a curva do prazer. É nessa curva que está alegria de viver. Quando a dedicação demasiada ao trabalho toma o lugar do prazer: sofre a família com nossa ausência, sofre o nosso organismo estressado e abdicado do repouso, perdemos a visão poética da vida e o pior pode acontecer, adoecer.
Para um saudável viver temos de mesclar reta e curva, o "repouso do guerreiro" é essencial antes do próximo combate. Na disputa por melhor audiência as mídias rivais reprisam à exaustão a violência e a crueldade, e deixam um rastro de apatia ou angústia no coração das pessoas que já pensam estar vivendo num mundo sem alma. Vivemos o fim da nossa civilização? Jesus disse sim ao assemelhar a depravação moral da sua época com os tempos de Noé antes do Dilúvio, e que o final dos tempos estava próximo, sendo a terra destinada a purificação pelo fogo.
Eu creio que Sua volta não deve tardar. Não há diferença ao comparar a pecaminosidade de Sodoma com a dissolução dos costumes em nossos dias. A poesia da vida minimiza, diariamente, a tristeza do mal que nos invade, ativando a alegria do bem que em nós habita. "Olhai os lírios do campo..."
Mauro Jordão é médico.