Considerando que a humanidade é condição e não natureza, podemos afirmar que as características que nos define como humanos, são assimiladas como elementos da nossa cultura constituída no âmbito das relações sociais.

O suíço Jean-Jacques Rousseau, que viveu no século XVIII e é considerado um dos principais filósofos do iluminismo, em sua obra “Do Contrato Social” considera que a perda da liberdade natural decorrente da nossa organização social deveria ser compensada por um contrato que garantisse a chamada “liberdade civil”, que seria um mecanismo garantidor da segurança e bem estar.  

Tomando o século XVIII como referência, podemos afirmar com segurança que, tanto as organizações sociais, quanto a humanidade, estão se tornando conceitos muito mais complexos. 

Aparentemente somos mais humanos hoje do que no passado. As nações, através de seus líderes criaram mecanismos globais de defesa dos direitos humanos dos cidadãos dos diferentes países. 

Mas o que dizer quando líderes (humanos) de importantes nações levantam barreiras para impedir que refugiados (também humanos) adentrem em seus territórios em busca de ajuda? Ou quando constatamos que o interesse público perde, a passos largos, espaço para os interesses privados?

Hoje, espalhados por todo o planeta, mais de um bilhão de pessoas vive com menos de US$ 2 por dia e são atingidos pela pobreza extrema. Isso engloba quase metade dos trabalhadores ocupados no mundo. Eles estão concentrados principalmente na América Latina, Caribe, África e Ásia e são as principais vítimas das chamadas doenças tropicais negligenciadas (DTN). 

Apesar de todo progresso científico das últimas três décadas, que gerou um aumento substancial na expectativa de vida, as DTN’s não são objeto de interesse da chamada indústria farmacêutica.  

Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), são reconhecidas 18 doenças como DTNs, entre elas a dengue que é a mais recorrente em nosso país. 

Se os donos das indústrias farmacêuticas, que são humanos, negligenciam a dor dos humanos que sofrem com essas doenças, por onde caminha essa tal humanidade? 

 

Afonso Pola (afonsopola@uol.com.br) é sociólogo e professor