Com uma área de 8.514.876 km², o Brasil é o quinto maior país em extensão territorial do planeta, mas apresenta uma estrutura fundiária das mais concentradas do mundo. Enquanto os minifúndios representam 70% do total das propriedades rurais e ocupam uma área de cerca de 11% do espaço agrário brasileiro, os latifúndios ocupam cerca de 55% da zona rural do Brasil.
Justamente por nossa realidade se apresentar assim que surge, em janeiro de 1984, o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). Ele está organizado em 24 estados das cinco regiões do país, sendo responsável direto para que aproximadamente 450 mil famílias conquistassem seu pedaço de terra para produzir seu próprio alimento.
O MST é o maior produtor de arroz orgânico da América Latina. Além do arroz, seus assentamentos produzem feijão, farinha, batata, mandioca, tomate, cenoura, café, leite, açúcar e queijo. Toda essa produção é feita a partir de 160 cooperativas, 120 agroindústrias e 1.900 associações. Onde o movimento está organizado busca disseminar a agroecologia como sistema de produção de alimento saudável em cadeia que respeita produtor, ambiente e consumidor.
Outras ações são a semeadura aérea de palmeira juçara ameaçada de extinção na Mata Atlântica, e durante o período de isolamento social a doação de milhares de toneladas para a população mais vulnerável.
Em um país onde a concentração da renda e riqueza é aviltante, um movimento como esse não é tolerável por aqueles que não se importam com 33 milhões de pessoas que estão passando fome, e por isso sempre teve que enfrentar inúmeras tentativas de criminalização. Agora está em curso a CPI do MST, proposta pelo deputado federal Tenente Coronel Zucco (REPUBLIC-RS), a maior motivação é ser usada como um palco para a extrema direita atacar o movimento.
No país das queimadas criminosas, onde a população indígena sofre com a invasão de suas terras e mais de 1,2 mil pessoas foram resgatadas de situações análogas à escravidão só nesse ano, a criação dessa CPI não é razoável.
Afonso Pola é sociólogo e professor.
