Qual é o valor da liberdade? Para uns, é maior que a própria vida. Mas ninguém se pergunta qual é o valor da democracia no Brasil de 2022. Desde o primeiro turno das eleições presidenciais, no final de setembro, partidos políticos pleiteiam junto às instâncias superiores do Poder Judiciário a possibilidade do passe livre para eleitores no dia da votação.
A experiência, aplicada em 14 capitais do país no primeiro turno, representou um momento de garantia do exercício do voto para uma parcela da população significativa da população. Sete em cada dez brasileiros ganham até dois salários mínimos, e o fator logístico do transporte público é um diferencial, podendo ter contribuído para a alta porcentagem de abstenções, permanecendo em um quinto do eleitorado brasileiro.
Pensando na situação de muitas famílias, fica difícil manter o espírito de cidadania quando as contas possuem pouca ou nenhuma margem para erros. Do outro lado da equação, as prefeituras colocam sobre planilhas e gráficos a responsabilidade sobre a impossibilidade de conceder o passe livre para o segundo turno das eleições.
A intervenção da Defensoria Pública do Estado recomendando a gratuidade do transporte público de Mogi das Cruzes no começo desta semana, entra em rota de colisão com o posicionamento da administração municipal, que se pergunta quem vai pagar a conta, e revela o descompasso entre todas as partes: os interesses do Poder Público, da população e do Poder Judiciário, que se revelam em dissonância.
Os dias vão passando e a falta de uma decisão firme que estabeleça bases comuns para toda a região, pode estar incentivando mais e mais a abstenção e até vicejando uma possível cooptação de votos, em uma das eleições mais polarizadas e agitadas desde a proclamação da República, tanto para o governo do Estado como para o comando do Palácio do Planalto.
É no som desafinado entre as partes, nos ruídos de comunicação entre os Poderes, que pode se estar criando dificuldades para que todos tenham voz na "festa da Democracia". Este é, no final das contas, a verdadeira tarifa da Democracia.