Aos 16 anos, o então judoca mogiano Renato Yoshio Kimura Ikegaya, parou diante de uma das escolhas mais difíceis de sua vida: seguir para uma academia grande e carimbar seu passaporte para as Olimpíadas de Sidney, em 2000 - neste caso o Judô Clube de Mogi das Cruzes, fundado pelo avô, Yokichi Kimura, fecharia as portas por questões financeiras - ou assumir os negócios da academia e tocar o projeto iniciado na década de 1970 no município. Yoshio ficou com a segunda opção e, quase 20 anos depois, afirma ter feito a melhor escolha da sua vida: "Eu estava 'voando' e era certo que iria para as duas próximas olimpíadas (Sidney e Atenas). Foi uma escolha muito dura. Meu irmão mais velho já tinha a empresa dele e não podia tocar as coisas do meu avô. Um dia, ele conversou comigo sobre estas duas opções. Não me arrependo de ter assumido a academia e foi a melhor coisa que eu fiz", detalhou Kimura.
O avô de Yoshio, o japonês Yokichi Kimura, que faleceu em 2010 aos 93 anos, foi o responsável por difundir o judô em terras mogianas, na década de 1970. Além de fundar o Judô Clube, o sensei Kimura também participou, com um grupo de adeptos do esporte, da formação da Federação Paulista da modalidade, nesta mesma década. "Para o meu avô, o judô é um instrumento para ensinar valores de vida", explicou.
Tanto que, aos dois anos e meio, o avô inseriu Yoshio - praticamente um bebê - no universo da luta corporal milenar. "Sim, eu tinha dois anos e meio. Não lembro de muita coisa, apenas de momentos. Tanto que temos uma foto em que eu estou lá, na frente do meu avô, com todos os atletas. Ele me levava aos treinos e eu convivia naquela atmosfera. O judô faz parte da minha educação e se tornou o meu estilo de vida. A modalidade sempre foi a minha prioridade", detalhou o judoca.
Atualmente, o Judô Clube já formou mais de 100 atletas faixas pretas. "Temos mais de 500 troféus e mais 16 unidades do Judô Clube espalhadas pela cidade, em academias e escolas. Fora o nosso projeto social, que atende mais de 200 crianças carentes em escolas estaduais: uma em Jundiapeba e outra em Suzano", explica.
Kimura é formado em Educação Física, mas por pouco não seguiu em Agronomia. Mais uma vez o judô estava no caminho. "Se eu fosse estudar Agronomia teria que abandonar os treinos. Quando eu tinha uns 16 anos sofri um acidente na perna, operei e fiquei afastado. Foi mais ou menos na época em que meu avô morreu (leia na página ao lado). Então, eu comecei a gostar da área de Fisioterapia. Prestei, mas não passei, no entanto, minha pontuação serviu para Educação Física e eu me encontrei. Depois ainda fiz uma pós-graduação nessa área", explicou o mogiano.
Hoje, Kimura é quarto Dan de faixa preta. "Judô é a minha vida. Me formei em Kinésio Terapia e também dou Mental Coach, que trabalha só com a parte psicológica do atleta. Isso ajuda demais a todos eles", contou.
O judoca, nascido no Hospital Santana, em Mogi das Cruzes, no dia 15 de agosto de 1981, é casado há sete anos com Sheila Valverde Melo Kimura Ikegaya e tem uma filha de 1 ano, a pequena Yuna Valverde Kimura Ikegaya. A meta do judoca é se dedicar como técnico até 2024, quando será realizada os Jogos Olímpicos, em Paris. "Hoje tenho nove atletas na seleção de base, sendo dois no Minas Tênis e um no São Caetano, e, na verdade, aqui em Mogi são seis alunos, mas tenho um outro grupo forte. No total, são uns 20 atletas de alto rendimento. Minha meta é levar o nome do Judô Clube para competições nacionais e internacionais, mas, como eu digo, não adianta ter uma medalha de ouro no peito e não dar bom dia para o porteiro. Se isso acontecer é porque, de algum jeito, eu falhei", finalizou.