O 17 de abril na Câmara dos Deputados revela bem que a mudança palaciana do inquilino do Jaburu para o Planalto não resolverá nossos problemas. O padrão da política brasileira continua muito degenerado.
A romaria do "quid pro quo", isto é, do "uma coisa pela outra", ou seja, do "toma lá dá cá", foi intensa, com Lula capitaneando promessas de cargos em troca de votos de um lado, e Romero Jucá de outro.
O deputado Zé Augusto Tampinha (PSD-MT), saindo de encontro com Michel Temer, revelou seus altos objetivos: "ele disse que no segundo e terceiro escalões não vai mudar nada. Isso acalma muitos companheiros, que estavam preocupados com sua base eleitoral".
O relator do impeachment, deputado Jovair Arantes (PTB-GO), ganhou de Temer a garantia de que terá seus cargos no governo mantidos, a começar por uma diretoria na Casa da Moeda. Os deputados do PR teriam 142 cargos comissionados se votassem "sim" ao impeachment. O governo não fez por menos, e as nomeações no Diário Oficial às vésperas da votação abundaram. Pequena política.
Cena chocante da República do Quiproquó foi a fala do deputado Bolsonaro, exaltando o réu Eduardo Cunha, seu líder, e o general torturador Carlos Alberto Brilhante Ustra.
Para torná-la ainda mais abominável, ele, com requintes de sadismo, "qualificou" seu herói militar como "o pavor de Dilma".
Tamanha apologia da sevícia e da eliminação física do adversário não devia ser tolerada em uma democracia. Politicalha.
As referências a pai, mãe, filhos, sobrinhos e netos testemunharam a privatização da política: o interesse e vínculo pessoal prevalecendo sobre o público. Deus, com seu nome usado e abusado em vão, foi invocado  como meio de fidelização da clientela. As eleições municipais estão próximas e vereadores e prefeitos são cabos eleitorais de luxo para 2018. Politicagem.
Entre a permanência do que aí está e o retorno pleno dos que sempre estiveram, urge lutar por mudanças estruturais, com novos protagonistas a serem escolhidos diretamente pela população.