Alívio. Nas Nações Unidas, a presidente Dilma Rousseff poupou o Brasil do vexame da denúncia de um golpe que não é golpe que ela insiste em dizer que é golpe. Foi prudente, comedida e elogiada. Não pelo que falou, mas pelo que não disse.
Poucas horas depois, pôs tudo abaixo. Na entrevista à imprensa internacional despejou lamentações contra a "injustiça", proclamou-se vítima, rogou ao Mercosul e à Unasul punições ao Brasil caso ela seja deposta e voltou a decretar a ilegitimidade de seu vice, Michel Temer. Não parou por aí. Jogou lama nas instituições, criticando ministros da Suprema Corte que rechaçam a tese de golpismo.
Talvez por ter lutado contra uma ditadura para tentar impor outra, Dilma tenha dificuldades para entender o conceito de democracia na sua amplitude. Fala sempre de seus 54 milhões de votos como se eles fossem garantia perene. Na sua tacanhice de visão, democracia se restringe ao ato de votar. Para ela, a vitória no sufrágio condena o eleitor a engolir o escolhido, mesmo que o eleito não seja digno da representação recebida.
O brado contra o golpe fictício e a vitimização acabaram se tornando os únicos e derradeiros tiros. Só que além dos públicos cativos eles não atingiram outros alvos. Na mídia internacional, onde Dilma imaginou ter fôlego para a sua pregação contra o "golpe", pouco conseguiu arregimentar fora do eixo bolivariano. 
No projeto protocolado na semana passada no Senado, a proposta de nova eleição se restringe a presidente e vice para um mandato tampão de dois anos. Não inclui os demais - nem deputados nem senadores, que não emprestariam dois terços de maioria para votar contra si.
Ou seja, cada defensor da ideia malandra de diretas já, da dona da Rede, Marina Silva, ao PT, Lula e Dilma, sabe da impossibilidade da tese.
Eleições extraordinárias têm ritos a serem seguidos. O esforço de animar a galera com elas quando se sabem improváveis é tão danoso quanto o engodo da pregação do golpe. Ambos os discursos tentam ludibriar o público. Pior: o fazem em nome da democracia, enxovalhando-a.