O que o Brasil testemunhou anteontem em quase 300 cidades foi histórico. Principalmente no maior município do País, onde 1,4 milhão de pessoas foram às ruas protestar contra essa situação lastimável que há tantos meses todos estamos enfrentando.
Sim, todos. Pode ser contra ou a favor do governo da presidente Dilma Rousseff. Mas todos os brasileiros sentem na pele os efeitos de uma economia desmantelada e de um governo que parece não ter mais controle. Ou a vida está melhor para quem defende o PT e o seu líder máximo, o quase mártir em vida, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva? Será que está tudo tranquilo, sem dificuldade? Não sentem efeito nenhum no mercado, na rua, no emprego (ou na falta dele)? Será que vivemos em um mesmo País?
E para esses que não aceitam o fato de milhões de pessoas terem saído de suas casas em um domingo para protestar, a tática é contra-atacar pelo desprezo e pela intolerância, adjetivando: quem foi às ruas é reacionário, "coxinha", burguês, conservador, elite branca, entre tantos outros absurdos. Como se a classe social, a cor da pele e a ocupação profissional determinassem quem pode ou não se manifestar.
O princípio da democracia é justamente o fato de que existe sempre um outro lado. E isso impele a ter que aceitar o contraditório, o divergente. Rico, pobre ou classe média; branco, negro e pardo; nada disso importa, só para quem quer distorcer e desqualificar quem tem pensamento diverso.
O debate está pobre e radicalizado. Pelo menos de um lado, que representa e defende a prepotência de um partido que tem dificuldade em reconhecer seus erros e a arrogância de um governo desacreditado.
À exceção daqueles que são genuinamente corruptos ou mal intencionados, ninguém sai às ruas para defender uma causa negativa. Quem é contra ou a favor de uma situação e se manifesta por isso quer o melhor para o País. O problema é que o melhor de um é diferente do melhor do outro.
O recado foi dado nas manifestações: de que as pessoas estão indignadas com a corrupção. A população cansou de tantos escândalos. Ela quer ética na política de uma vez por todas.
Será que são necessários outros protestos? Estes últimos colocaram bastante lenha na fogueira da luta pelo impeachment. A propósito, pedir o impedimento da continuidade do mandato da presidente é legal e legítimo. Cabe à classe política e ao Judiciário levarem ou não esse anseio de milhões para frente. Ainda mais depois do que se viu nas ruas.