É possível sermos felizes com nossas próprias infelicidades? Eis a questão, ainda mais se levarmos em consideração que, cada vez mais, a mídia impregna conceitos e valores, segundo critérios publicitários, que vão além da comunicação de informação. Há um traçado de paraíso ao consumo exacerbado de produtos disponíveis no mercado, isso é óbvio. No entanto, devemos nos lembrar que na mitologia grega os homens eram castigados pela sua audácia, por sua curiosidade e pela ambição acerca de Deus ou pelos deuses, deixando claro que havia limites e que, uma vez ultrapassados, levariam a consequências horríveis e desastrosas.
Na própria Bíblia, temos a situação da expulsão do paraíso pela desobediência de Adão e Eva. E não podemos falar apenas em infelicidades, aquelas que cada um sabe, exatamente, como doem. Que tipo de felicidade, afinal, tanto procuramos? Ela está intimamente ligada aos nossos desejos mais secretos, ou apenas às realizações profissionais e familiares? Será que felicidade só se dá pelas coisas que reunimos ou será que, principalmente, pelo que somos e pelo que ainda seremos? Será mesmo que não é pelos momentos e pelas situações mais simples que ocorrem as maiores evoluções, inclusive as de nossa alma?
Acredito, aliás, que um dos caminhos certos é o que nos leva a não temermos os atropelos na experiência em que nos encontramos, porque se trafegamos na existência oferecendo aos outros o melhor de nós mesmos, Deus proverá com todos os agentes que nos façam necessários à paz.
Creio que caiba, perfeitamente, nesta oportunidade, o poema "Eu, Etiqueta", de Carlos Drummond de Andrade. 
"Em minha calça está grudado um nome. Que não é meu de batismo ou cartório. Um nome .estranho. Ordens de uso, de abuso e de reincidência, de costume, de hábito, de premência... E, fazem de mim homem anúncio itinerante Eu que antes era e nem sabiaTão diverso de outros, tão mim-mesmoAgora, sou apenas uma coisa, coisamente".