No dia em que completou 12 anos de existência, o principal programa social do governo do PT, o Bolsa Família, sofrerá um corte de 35%. Em reunião no Palácio do Planalto ontem, o relator do Orçamento da União de 2016, deputado Ricardo Barros (PP-PR), anunciou o corte de R$ 10 bilhões. "Minha proposta é manter quem está no programa e não fazer renovações. Quem está no programa será mantido, e a vaga de quem sai não será resposta. Hoje, o próprio governo diz que 72% dos beneficiários trabalham", justificou o parlamentar.
E a conta do relator é simples. Disseram para ele e ele propôs: "Os R$ 32 bilhões da CPMF não virão, porque não será aprovada, e nem os R$ 6 bilhões do Sistema S, porque até agora não veio para o Congresso o projeto de lei sobre isso. Vou ter que enxugar (nas despesas) o que eu puder. No caso do Bolsa Família, me disseram que as pessoas trabalham, então estou vendo como é", disse Barrros.
O corte no programa social não pode ser considerado apenas mais uma forma de contribuir com as medidas de austeridade propostas pela atual direção econômica do País. Simboliza a ruptura definitiva do atual PT, envolvido no maior escândalo de corrupção da história, com aqueles que fundaram o Partido dos Trabalhadores, uma legenda com a clara ideologia de ser um grupo que teve como base as mobilizações populares. Tais fundadores continuam com esta ideologia. Muitos, movidos pela vergonha ou desgosto, saíram da política partidária e outros pedem o impeachment.
O partido se distanciou de movimentos sociais e se perdeu em meio a tanta politicagem. E aqueles que verdadeiramente ainda acreditam no projeto do Partido dos Trabalhadores, não quem aguarda apenas por cargos, sugerem um retorno às origens. Mas fazê-lo será mais complicado do que parece, afinal, as mentiras e o "modus operandi" contadas e mostradas ao longo dos últimos anos indicam que o objetivo do partido passou a ser, exclusivamente, o poder pelo poder. Custe o que custar. É inegável que o Bolsa Família foi responsável por grandes avanços. No entanto, o atual PT o usa como massa de manobra.
A legenda, que chegou ao governo em 2002 com um projeto novo de País, ao menos na teoria, pretendia criar avanços sociais, mas o poder o corrompeu.
O projeto de País pouco a pouco foi dando espaço para um projeto de poder, financiado com dinheiro de caixa 2 e de corrupção institucionalizada. O Partidos dos Trabalhadores de outrora já não existe mais. Diminuir o Bolsa Família não é apenas mais um corte, mas a sinalização que o PT de hoje não conta com nenhum fragmento do PT de Hélio Bicudo, Plínio de Arruda Sampaio, Reinaldo Azevedo, e muitos outros.