Na história dos partidos políticos do Brasil, o PT ocupa um lugar singular. Vinha das comunidades eclesiais de base, dos militantes da resistência armada que sobreviveram à tortura, prisão e exílio da ditadura, dos intelectuais das universidades comprometidos com o povo pobre.
Do novo sindicalismo, não pelego, cujo berço era o ABC paulista, dos movimentos populares contra a carestia, da afirmação das mulheres contra o machismo patriarcal, do movimento negro contra a discriminação.
Uma novidade, que, com certa celeridade, foi conquistando a juventude e ganhando inserção social. O PT era portador de esperanças inéditas na República brasileira e representou uma nova forma de fazer política.
Há dez anos, quando indagam a nós, do PSOL, sobre as razões de sairmos do PT, com Lula ainda na metade de seu primeiro mandato presidencial, respondíamos que nós não saímos do PT, o PT é que saiu de si mesmo.  E completávamos: saímos para continuar praticando o que nele aprendemos. Ou, na metáfora que um camponês de um assentamento em Campos, no norte fluminense, nos ensinou, "mudamos de enxada para continuar o plantio".  Por óbvio, não para obter  colheita patrimonial ou para colocar a máquina do estado para financiar campanhas milionárias e, assim, aliados ao grande capital, através de meios lícitos e ilícitos, reproduzir o sistema que proclamávamos contestar.
No poder da República, o PT implementou programas sociais que favoreceram alguma distribuição de renda em nossa sociedade injusta. Mas desmobilizou as forças sociais de mudança. Incluiu parcelas no consumo, mas não na consciência política, na elevação da cidadania participativa. Tornou-se cada vez mais assemelhado às outras grandes legendas.
Assim o PT chega aos seus 36 anos de existência como uma promessa que feneceu. Ele é portador de uma doença letal que o fez perder, enquanto organização, sua condição de partido da transformação social. Como disse Guilherme Boulos, o jovem líder do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto, "o PT está colhendo o que deixou de plantar".