É muito fácil divulgarmos os nossos feitos mais nobres, tais como nossas qualidades. Numa roda de amigos sempre alguém solta algo que muitas vezes entendemos como a deixa para nos vangloriarmos.
Geralmente, somos engraçados, comunicativos, alegres, mas e os defeitos? Ah, esses a gente deixa ali, escondidos para uma outra hora. E essa hora sempre vem.
Não que seja de fato um defeito, mas ninguém assume isso muito de cara. Uma das nossas negações clássicas é: eu não ronco.
Quem nunca falou essa frase que atire o primeiro descongestionante nasal! Basta cairmos no sono profundo, abrirmos a boca daquele jeito que daria para contarmos todas as obturações faltantes, para começar o barulho da britadeira mais alta do mundo!
Mesmo que seja um simples ronronar, algum som sempre sai daquela "caixa acústica" que chamamos de boca. A única maneira de pararmos de negar isso é quando estamos viajando num ônibus lotado, viagem longa, caímos no sono e acordamos no susto com nosso próprio ronco.
Rapidamente, só olhamos para o lado buscando alguém rindo da nossa cara. Caso não haja, assumimos que somos normais e voltamos ao barulhinho bom.
Lembro muito da minha mãe quando ela negava que roncava. Como ela sempre foi uma baixinha brava, a gente brincava com ela com cautela porque podia voar um chinelo, se fôssemos mais ousados.
Mas com o apoio do meu pai, que sempre adorou uma bagunça, conseguimos um dia com aqueles gravadoras antigos, enquanto ela dormia no sofá, gravarmos o seu ronco.
Eu, meu pai e minha irmã arriscamos alto nessa colheita de provas, morrendo de medo dela abrir os olhos no momento da nossa "arte", mas deu certo. Ou quase!
Ela, mesmo ouvindo seu próprio ronco, não assumiu que era dela e, já ameaçando colocar todo mundo de castigo já que chorávamos de rir, achamos por bem não contestar.
Afinal, ela, nesse caso, foi o melhor exemplo do dom da negação e sempre foi o elo mais forte, literalmente, dessa relação!