Todo o final de ano, a mídia se preocupa em apresentar retrospectiva dos fatos que mereceram relevo, elegendo aqueles que se destacaram no concerto nacional.
Assim o fazendo, a revista "Veja", que circulou na derradeira semana do ano passado, teve como figura da capa, o badalado juiz Sérgio Moro, qualificando-o como o homem "que salvou o ano".
Isso não bastasse, em página central estampou a fotografia grotesca de Newton Ishii, agente que, acompanhando várias das prisões que construíram a história da "Operação Lava-Jato", se viu, de uma hora para outra, transformado em ícone nacional.
Não contesto as matérias apresentadas pelo órgão informativo. Em País pouco aculturado e com falta de ídolos; em nação que, em passado não muito distante, até o "Joaquinzão" foi quase divinizado; fatos como esses vão se tornando comuns.
O que deploro, isto sim, é a insensibilidade com que se age na escolha dos eleitos.
Merecedores de aplausos, e que, por isso, deveriam emoldurar as folhas do semanário, são aqueles tantos que, esquecidos por todos, com desprendimentos invulgares, se embrenham pelos sertões, e nas pequenas vilas, nos sítios isolados, por vezes tendo por teto apenas as sombras das árvores, lutam por extinguir o analfabetismo e espalhar cultura; gigantes de um país miserável, são os abnegados doutores, que munidos de parcos recursos, passeiam os seus conhecimentos pelos lares desnutridos, pelas aldeias quase que incivilizadas, estancando as malévolas doenças, acenando com esperanças a uma população descrente dos poderes públicos; soberbos, em suas simplicidades, são tantos outros que, combatendo as desigualdades, às suas maneiras, dedicam o que de mais caro têm, aos infelizes que lutam para sobreviver.
Sem o glamour que cerca "as grandes figuras", os donos dos holofotes, são desdenhados pela poderosa imprensa. Afinal, reportagem sobre eles não vende!
A esses anônimos heróis, os verdadeiros ídolos brasileiros, minha modesta reverência!