Há cerca de dez anos, eu lia um texto sobre ética escrito pelo desembargador José Renato Nalini, que foi presidente do Tribunal de Justiça de São Paulo. As palavras sobre a ética do estudante de direito me marcaram profundamente (já tive a felicidade de dizer isso pessoalmente ao professor Nalini).
Se encontrava ali uma lição sobre a responsabilidade social do estudante universitário, enquanto um pequeno grupo de pessoas privilegiadas pelo acesso ao conhecimento e, assim, graças ao sacrifício daqueles que não possuíam o mesmo acesso. Tanto os universitários de faculdades públicas, por motivos óbvios, mas, também, os estudantes de instituições particulares, que contam com alguns subsídios estatais.
Dessa forma, deveria o estudante universitário ser consciente de seu dever de, a partir do conhecimento adquirido, devolver benefícios aos mais carentes.
A responsabilidade do estudante de direito seria, então, ainda maior, por se tratar daquele que adquire conhecimento relacionado ao direito e, como maior dever, deveria levar aos excluídos a possibilidade de acesso aos seus direitos.
Eu, especificamente, enquanto estudante de direito e bolsista de programa estadual, ao ler aquelas afirmativas, me senti e me impus uma responsabilidade ainda maior.
Em determinada palestra, ainda enquanto estudante, prometi para uma plateia de pessoas comuns que sonhavam ser advogado e que, como tal, nunca me acomodaria no conforto do meu escritório com ar condicionado, que faria questão de estar na rua e de levar o direito aos necessitados.
Escrevo esse texto com o rosto ardendo, queimado do sol, pois ontem marchei com o povo carente da minha cidade, gritei e exigi respeito aos direitos mínimos, merecidos por qualquer ser humano. Sinto que fui verdadeiro e paguei um pouquinho da promessa feita enquanto estudante, mas falta muito mais e eu espero viver muitos anos e advogar até o último dia, para poder pagar mais um tantinho do que prometi.