Auguste de Saint-Hilaire (1779-1853) foi um naturalista francês, que viveu em nosso País estudando as plantas. "Ou o Brasil acaba com a saúva, ou a saúva acaba com o Brasil" foi uma das mais brilhantes e "proféticas" conclusões de seus estudos como botânico. Isso há mais de um século e meio.
Essa mesma frase foi incorporada ao personagem de Policarpo Quaresma, O Herói do Brasil, de Lima Barreto, que tem muito de Dom Quixote, com uma visão do sublime que a realidade a sua volta não comporta. É ridicularizado por todos, mas essa zombaria mal esconde a mediocridade de quem ri de suas atitudes e idéias.
O escritor Mário de Andrade fez uma variação da célebre frase, em Macunaíma: "Pouca saúde e muita saúva, os males do Brasil são"...
Se estivessem vivos, Saint-Hilaire e Mário de Andrade (e por que não Policarpo Quaresma?) constatariam que as saúvas, praga danada, são fichinhas ante o formigueiro que toma conta do Brasil.
O Brasil? Vai mal, muito mal. Inflação desenfreada, desemprego que acaba com a dignidade de milhões de trabalhadores, violência que mata e mutila dezenas de milhares, quebradeira que joga grande parte do empresariado no abismo, roubalheira que a cada dia mostra mais e mais escândalos com milhões e bilhões de reais surrupiados, etc, etc.
A saúva? Vai bem, muito bem. Encarnada em tantos personagens nocivos e criminosos, que mesmo diante de mega escândalos desfilam sua desonestidade intelectual, falsificam a realidade e ainda difundem com a maior cara de pau e cinismo a argumentação marqueteira igualmente criminosa, baseada na lógica de que os fins justificam os meios. É o germe da discórdia deliberadamente plantado e cultivado como método de governo. Nem Mussolini, Hitler, Franco, e outras mentes criminosas juntas, teriam tanta criatividade para o mal.
Nunca antes na história deste País testemunhamos tamanha indecência e, fica a dúvida, se haverá limites para tanta bandalha. Resta-nos, como esperança, o trabalho árduo da Polícia Federal, de parte do Ministério Público, do juiz Sérgio Moro e também parte do Supremo Tribunal Federal. E do STF ressoa as palavras da sensata ministra Carmem Lúcia, que mais ou menos disse isso: "Assistimos a esperança vencer o medo, mas na ação penal 470 (do mensalão, um crime menor se comparado ao petrolão) se viu que o cinismo venceu a esperança. Agora assistimos ao escárnio vencendo o cinismo. Mas para aqueles que navegam nessas águas turvas, um aviso: o crime não vencerá a justiça!