Após os ataques terroristas praticados contra Paris na última sexta-feira, 26 estados americanos anunciaram ontem que irão apertar o cerco contra a entrada de refugiados sírios no país, mostrando disposição em bloquear o programa do presidente Barack Obama, que objetivava franquear as fronteiras dos Estados Unidos a 10 mil pessoas vindas da Síria até setembro do ano que vem. A notícia, como já era de se esperar, torna ainda mais difícil a vida de quem sonhava em fugir da guerra civil e religiosa, rompendo o fio de esperança que os atava a um recomeço na América.
Além disso, o fato de um passaporte sírio ter sido encontrado em um dos locais dos atentados e a suspeita de que alguns extremistas tenham se infiltrado em meio aos refugiados para ter ingresso na Europa aumentou a desconfiança das autoridades em conceder-lhes abrigo. Entretanto, o ministro do interior da Alemanha, Thomas de Maizière, disse que o passaporte sírio localizado pode ter sido uma manobra ou uma falsa pista, orquestrada pelos islamistas radicais, a fim de "endurecer o debate migratório". Hipóteses à parte, o que se sabe é que, no final das contas, quem mais sofrerá as consequências do terrível ato é um povo já bastante castigado pelas atrocidades do Estado Islâmico (EI) e que, agora, além de não ter para onde escapar, precisará torcer para não morrer bombardeado na guerra travada entre a França, a Rússia e o EI.
Estudo divulgado na revista British Medical Journal, feito por epidemiologistas especializados em desastres - e que foi tema de reportagem publicada pelo jornal espanhol El País em setembro deste ano -, mostra que, analisando a causa da morte entre civis, durante a guerra que impera no país, verificou-se que as crianças representaram 9% dos mortos em tiroteios contra 84% de homens adultos. Já nos bombardeios, 26,8% das vítimas fatais eram menores, frente a 54% de homens. Uma triste constatação.
Agora, mais do que nunca, é hora de lembrarmos daquela imagem do garotinho sírio, caído na areia da praia, depois de ter se afogado ao tentar atravessar o mar com a família, para fugir dos horrores da guerra vivida em seu país; das fotografias de rostos desesperados e ansiosos por cruzar as fronteiras e do vídeo do homem, que, carregando uma criança no colo, levou uma rasteira de uma cinegrafista estrangeira, caindo no chão.
Afinal, nenhum desses registros históricos foi feito ao acaso e, portanto, não merecem cair no vão do esquecimento, sob pena de se repetirem incessantemente.