O ego e o poder são os maiores inimigos das ações éticas e do bom senso. Apesar de tanta evolução, o ser humano resiste a "aprender a perder", a saber que sua hora passou e que outros merecem oportunidades, atitude de poucos, normalmente pelos humildes, que na boca do povo são chamados de derrotados. É o que estamos vendo com o governo federal. Um total descompromisso com a lógica em prol da preservação de seu mandato.
Para ilustrar o tema, dois fatos ocorridos nesta semana. O primeiro é que o relator do Orçamento da União para 2016 sugeriu a redução em R$ 10 bilhões do Bolsa Família; o segundo se refere a uma proposta de lei aprovada na Câmara que prevê a punição a quem faz publicidade do aborto, entre outras medidas sobre este delicado procedimento.
De cara, para o cidadão letrado e sensível aos acontecimentos, parecem boas ideias, uma para a economia e outra para a saúde. No entanto, o PT fez bico, bateu o pé e criticou tais medidas. Sobre o primeiro caso, a presidente Dilma Rousseff avisou que não aceitará a redução do Bolsa Família para 2016, pois os mais de 50 milhões de beneficiários não podem viver sem esse dinheiro.
Vale constar que o relator do Orçamento não propôs a medida sem pensar. Ele leva em consideração que quase 70% dos beneficiários do Bolsa Família já trabalham, e por isso o efeito da suspensão não seria tão grande. Além disso, ele lembra que há muitos casos de falsificação para receber do programa, que devem ser investigados. Será que Dilma vê os 50 milhões de beneficiários como necessitados ou como eleitores?
Mas o segundo exemplo citado é pior. O projeto de criminalizar quem anuncia e promove aborto foi aprovado porque, até então, quem faz isso não pode ser preso, pois a legislação trata o tema como contravenção penal, que gera apenas uma multa. Além disso, cita que as vítimas precisam comprovar o estupro, por meio de boletim de ocorrência ou exame médico, para realizar o aborto. Imaginamos que não há como ir contra tal medida, mas quem criou o projeto foi o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), atual inimigo número um do PT. Isso bastou para a bancada petista criticar o projeto, dizendo até que ela "vai dificultar aborto em casos de estupro".
O governo e sua base aliada está vendo ameaças e inimigos mesmo onde não existem. Uma reavaliação do Bolsa Família e a concordância na lei sobre o aborto não tratam de descaso ou prejuízo ao povo, pelo contrário, são medidas para afinar o Orçamento e a legislação atual.