Fugindo das mentiras que se contam em território nacional, mote dos meus últimos artigos, proponho-me a fazer breve análise do martírio vivenciado por imigrantes forçados, aqueles que deixando o Oriente Médio, em razão das absurdas refregas armadas que infelicitam os seus países, buscam abrigo em nações europeias.
A imprensa internacional, com justa razão, alude ao drama que os tem marcado, usando agora a imagem de inocente criança, depositada em praia como um dejeto qualquer, daqueles que o oceano, constantemente, teima em expelir.
Pese-se a desumanidade embutida nas recusas de refúgio da grei de sofredores, construindo-se cercas de arames farpados e usando-se de força incomum na repulsa aos intentos dos desesperados - o que, repita-se, retratado em reportagens espetaculares -; considere-se as discussões prolongadas, daquelas que não levam a nada em torno do tema; noticie-se as passeatas de apoio aos nômades debilitados; o que se tem deixado de examinar é situação de igual ou maior importância.
Movidos pelos sentimentos comuns àqueles que, consternados, sofrem a distância os males dos desesperançados, cuida-se de dar valor aos efeitos, desprezando-se as causas.
Não vi ou li qualquer alusão aos senhores das armas, às potências industriais dos petrechos de guerra, que fomentam as escaramuças e se deliciam com a arte do matar; não escutei qualquer comentário aos países que sedimentam suas economias, também na fabricação de tais artefatos e que precisam, obrigatoriamente, de incrementar escaramuças, sob pena de, com gritante prejuízo financeiro, sentir o clamor popular interno.
Para eles, o homem é ser descartável e, seu sofrimento, efeito colateral dos tempos do culto extremo ao capital. A eles, conquanto que não atinjam os seus rincões, a catástrofe humana é aceitável e até explicável.
Negando-se a ato de constrição, são mestres em recriminar, quando o abrigo é negado.
Hipocrisia evidente, às vistas de um mundo que se cala!