Escrevo de uma cidade no interior do Estado de São Paulo. Uma cidade bastante distante, uma viagem de quase dez horas de carro, mas que fiz em 50 minutos de avião.
Hoje é o primeiro dia da viagem, amanhã é o dia de uma audiência importante e no dia seguinte retorno. Vim um dia antes, tendo em vista a complexidade do caso e marquei a volta para um dia depois, porque não sei que horas a audiência acabará. O resultado será de três dias longe de casa.
Viagens a trabalho são sempre muito solitárias, sinto sempre muita saudade. Matarei um pouco dessa saudade agora, ou não. Faz tempo que quero escrever algo sobre o meu pai. O ano todo planejei que escreveria para o Dia dos Pais.
Tenho sempre muita dificuldade em me expressar quando o assunto é o meu pai, e isso de todas as formas, tenho dificuldade de escrever, assim como tenho dificuldade em lhe falar o que sinto. Ainda nem comprei o presente do Dia dos Pais.
É sempre mais fácil ser sensível com a mãe. Parece que somos criados para ter uma relação de homem para homem com nossos pais, mas não é isso. A verdade é que tudo sempre parece pouco, falar, escrever ou qualquer outra coisa, fico com a impressão de que o meu pai merece mais.
Ele é o meu ídolo maior, é o homem a quem mais admiro como chefe de família. Ele fez todas as escolhas certas, e todas escolhas sempre custaram muito, sempre significaram muita renúncia.
Enquanto os meus maiores defeitos são egoísmo e egocentrismo, as maiores qualidades do meu pai são a sua capacidade de doar e a humildade.
O primeiro intelectual que eu conheci foi meu pai, cercado de livros, com aprendizado e entendimento fácil de assuntos complexos. Ele me apresentou os pensadores. Me apresentou também Chico Buarque, que formou a trilha sonora da minha infância.
O maior desafio da minha vida ainda está por vir, ser um pai tão bom para os meus filhos, assim como o meu é para mim. O meu pai é o meu herói, e eu sou um grande fã de heróis.