Cinco meses após uma onda de manifestações Brasil afora que deixou clara a insatisfação de uma grande parcela da população em relação ao governo Dilma Rousseff (PT) uma nova iniciativa semelhante ocorrerá hoje em diversas cidades. De lá para cá muita coisa aconteceu, principalmente desdobramentos das investigações sobre corrupção e formação de cartel na Petrobras. Vários nomes conhecidos voltaram a aparecer, como do ex-ministro chefe da Casa Civil José Dirceu, que também teria sido favorecido com dinheiro ilícito.
A situação por si só engrossou O coro de quem brada pelo combate à corrupção e por um governo que realmente represente a população e não aplique ações e pacotes de maldades, algo sobre qual antes se negava de pés juntos que aconteceria.
Não bastassem esses elementos e práticas, uma frase dita pelo presidente da Central Única dos Trabalhadores (CUT), Vagner Freitas, em evento no Palácio do Planalto, poderá ser um tempero a mais nos protestos que devem ocorrer hoje. "Somos defensores da unidade nacional, da construção de um projeto de desenvolvimento para todos e para todas. E isso implica, neste momento, ir para as ruas entrincheirados, com armas nas mãos, se tentarem derrubar a presidenta. Nós seremos o exército que vai enfrentar essa burguesia nas ruas ", disse. Horas depois, ele tentou se justificar, alegando que ao falar em armas usou uma figura de linguagem: "Pessoal, quando falei em armas me referia às armas da classe trabalhadora: mobilização, ocupação das ruas e greve geral."
Não há o que justificar. O que foi falado já está publicado. Ao contrário do que Freitas explica, ele não foi mal interpretado, foi bastante claro: se precisar fazer uma ditadura para combater um processo de impeachment ou qualquer outra iniciativa amparada pela lei que possa implicar no impedimento da continuidade da presidente Dilma do cargo, há quem esteja disposto em pegar em armas e estabelecer uma nova ditadura. Isso sim é golpe. Um golpe contra o Estado Democrático de Direito.
O fato é que esse episódio não vai ser esquecido por quem estiver hoje participando das manifestações. E também não deveria ser por parte de quem defende a lei. Um discurso desse, vindo de um líder de entidade que representa milhões de trabalhadores, é praticamente uma ameaça à segurança nacional e uma apologia ao uso ilegal de armas para impor uma vontade. Não caberia uma averiguação mais próxima sobre isso pela Polícia Federal e pela Justiça?