Dilatação do prazo para o julgamento das pedaladas fiscais, pedido de vistas protelatório no TSE, manifestações de apoio, Agenda Renan. Acertados por debaixo do pano, os arranjos da semana passada foram um alento à presidente Dilma Rousseff (PT). Mas não parecem ser suficientes para dar fôlego ao seu governo, rechaçado por 71% da população. Os ares das ruas que o digam.
Ao contrário dos movimentos sociais oficiais, patrocinados com dinheiro público, os milhares que foram as ruas anteontem não têm tutela de ninguém. Nem a mesma palavra de ordem previamente ensaiada. Seus gritos de Fora Dilma, Fora PT traduzem uma gama de insatisfações. Repudiam a corrupção.
Um mês antes do início da Lava-Jato, em fevereiro de 2014, a Petrobras fechou, sem licitação, contrato de patrocínio do Congresso Nacional do MST, realizado em Brasília. A estatal confirmou ter colocado R$ 650 mil no evento. Outros R$ 550 mil foram custeados pela Caixa e pelo BNDES. Para as "margaridas" que ouviram os arroubos de Lula e Dilma no Mané Garrincha, Caixa, BNDES e Itaipu Binacional gastaram mais de R$ 850 mil.
Dinheiro pequeno perto de generosidade permanente com o MST, gestor de convênios de mais de R$ 200 milhões, de cuja prestação de contas não se tem notícia. Perde para a CUT, que de 2008, quando Lula incluiu as Centrais na partilha dos recursos do imposto sindical - um dia de trabalho de cada assalariado - para cá arrecadou mais de R$ 340 milhões. Recursos suficientes para custear muitas guerras.
Em entrevista a Serginho Groisman nos tempos em que liderou movimentos pró-impeachment de Collor de Mello, Lula explicou aos jovens que a Constituição previa a destituição de um presidente. Foi mais longe: defendeu o recall do voto - "seria a salvação da lavoura". Hoje, na sua doutrina impeachment é golpe.
Dilma respirou. Depende ainda de aparelhos, materializados em movimentos sociais pagos. Pode ir mais longe - ou não. As dívidas dela com as ruas são maiores. Não adianta tentar golpeá-las.