O ex-ministro da Casa Civil, José Dirceu, teve a prisão preventiva decretada pelo juiz Sérgio Moro, que conduz a Operação Lava Jato na 1ª instância, na manhã de ontem, e foi levado para a Superintendência da Polícia Federal em Brasília por quatro agentes da PF. Hoje, ele deve ser transferido para Curitiba, no Paraná, já que o ministro Luis Roberto Barroso, do Supremo Tribunal Federal (STF), autorizou a sua transferência. "Defiro o pedido para o fim de colocar o sentenciado José Dirceu de Oliveira e Silva à disposição do Juízo da 13ª Vara Federal, Subseção Judiciária de Curitiba", decidiu Barroso.
O ex-ministro já cumpria pena em regime aberto em Brasília na condenação por corrupção ativa no caso do Mensalão. O advogado do ex-ministro, Roberto Podval, chegou à Superintendência da PF pouco das 17 horas e não quis comentar a prisão de Dirceu. Mais cedo, a defesa de Dirceu tentou evitar a transferência do ex-ministro, alegando que é "totalmente desnecessário" levá-lo para o Paraná. O criminalista Roberto Podval, que defende o ex-ministro, afirmou que Dirceu se dispôs a prestar esclarecimentos a Moro sobre suposto envolvimento na Lava Jato e que, na ocasião, um delegado de polícia disse que não era necessário o deslocamento.
O juiz Sérgio Moro solicitou ao STF a transferência. "Como as investigações e processos tramitam em Curitiba, seria importante, contudo, a sua remoção para a carceragem da Polícia Federal em Curitiba", escreveu.
Barroso disse entender "que a concentração dos atos de apuração criminal no foro do Juízo que supervisiona o inquérito é perfeitamente justificável, na medida em que é lá que se encontram em curso as investigações envolvendo as condutas imputadas ao sentenciado".
O gerente da Petrobras Celso Araripe também foi preso preventivamente na manhã de ontem, no Rio de Janeiro, na 17ª fase da Operação Lava Jato. Ele deixou a superintendência da Polícia Federal no Rio à tarde, onde embarcou em voo comercial para Curitiba. Essa foi a única prisão executada no Rio nesta etapa da Operação. No entanto, a Petrobras já havia demitido Araripe na semana passada por "justa causa", sem detalhar as alegações para o desligamento. Ele atuava na gestão de projetos da companhia, sendo responsável por contratos do Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj) e pela construção da sede administrativa da estatal, no Espírito Santo.
O diretor de governança da empresa, João Elek Junior, afirmou na última sexta-feira que as investigações internas identificaram cerca de dez pessoas, entre funcionários e ex-funcionários, com suspeita de envolvimento em atividades ilícitas nos contratos da estatal. Em nota, a companhia informou que "Araripe não faz mais parte do quadro de empregados" e que "reitera seu compromisso de colaborar com as autoridades".
Sua prisão foi pedida em função de delação premiada do executivo da empreiteira Camargo Correa, Eduardo Hermelino Leite. O delator descreveu em detalhes a corrupção ocorrida na construção da sede da Petrobras em Vitória, no Espírito Santo. Segundo a delação, o consórcio responsável pela obra era liderado pela Odebrecht, e simulou contratação de consultorias para repassar a Araripe e seus familiares cerca de R$ 1,4 milhão em propinas, entre 2010 e 2014.
A nova etapa da Operação Lava Jato também trouxe à tona um novo operador de propinas que atuava como "representante" do ex-ministro José Dirceu no âmbito da Diretoria de Serviços da Petrobras, cota do PT no esquema, chamado Fernando de Moura.
A força-tarefa chegou ao nome de Moura a partir da delação do lobista Milton Pascowitch, que atuava para a Engevix e utilizava sua empresa Jamp Engenheiros para lavagem de dinheiro de propina. Em seu depoimento, Pascowitch relatou ter conhecido Moura depois de a Engevix ter vencido uma licitação da Petrobras para a expansão do terminal do gasoduto de Cacimbas 2, em 2004, no valor de R$ 1,3 bilhão. "Após a assinatura desse contrato, o declarante foi chamado por Fernando de Moura, o qual disse que o contrato foi firmado pelo então diretor de Serviços Renato Duque em razão do grupo político que ele representava e que deveria ser paga uma comissão aos mesmos pela obra", disse o delator em seu depoimento.
Olavo de Moura, irmão de Fernando, também foi preso temporariamente ontem. A Justiça bloqueou R$ 22 milhões da família.