Para o povo, são necessárias leis, sobretudo leis penais severas. Para fazer reinar a ordem e manter a coesão social, é preciso submeter os homens a leis e castigar as infrações com penas severas, as mais cruéis possíveis, para intimidar. É preciso obrigar os homens a denunciar infrações mesmo que não sejam vítimas delas, mesmo se tal acontecer em detrimento de sua própria família, porque o Estado está acima da família; o interesse público acima do interesse privado.
Aos que pensaram que o texto reflete o Brasil de Sérgio Moro, informo que se enganaram redondamente. Pese a semelhança com o discurso inflamado e midiático dos dias atuais, com as atitudes insanas e despóticas daí derivadas, com o "prendo e arrebento" que se tornou comum nas manchetes dos jornais, remete ele ao século 3 antes de nossa era, mais precisamente aos legistas da dinastia Ch'in, na China.
De lá para cá, evoluindo o Direito na teoria, "civilizando-se" o homem, criados os Estados ditos democráticos, nos quais rebrilham Constituições férteis em assegurar direitos e garantias individuais. Na prática, o clamor pelo agravamento das sanções, com penas cada vez mais rígidas, persiste, ouve-se nos mais diversos recantos deste País continente.
Na crendice popular, moldada, quem sabe, nos princípios falhos que guiou o grupo de então, o rigor absoluto impõe-se como remédio aos dramas sociais perpetrados pelo delito, que recrudesce.
Reprimendas tivéssemos, que condenassem ao ostracismo das masmorras o vil criminoso e, afirma-se, ele se intimidaria no momento da prática de um ato dantesco. Dormiriam melhor as famílias, eis que não teriam, no calar da noite, a fundada preocupação com a segurança do ente amado que ainda não tornou ao lar; sossegariam os receosos genitores, temerosos pelos atos tresloucados de matadores vingativos, responsáveis pelas chacinas que se tornam habituais. Voltem ao inicio e analisem: o buraco não estaria mais embaixo?