Um simples encontro que fez mudar um destino. Foi nos idos da década de 80 que João Montes, de 70 anos, atual presidente da Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (Apae) de Mogi das Cruzes conheceu Ricardo Strazzi, que ficou à frente da instituição durante 37 anos. Montes havia chegado à cidade anos antes para trabalhar na antiga Companhia Telefonica da Borda do Campo (CTBC) e, na ocasião, procurou Strazzi - após a indicação de um amigo - para fazer uma aplicação financeira. "Ele (Strazzi) era operador financeiro e uma pessoa muito agradável. Logo, ficamos amigos e ele me levou para o Lions. Anos mais tarde, isso já em 1999, me convenceu a ir para a Apae como suplente. Estou aqui até hoje. Aliás, aqui só fica quem gosta", detalhou.
Há 20 anos, Montes vive a atmosfera da Apae de Mogi. São duas décadas abdicando de parte do seu tempo para ajudar o próximo. Tem certeza que o encontro com Ricardo Strazzi, pessoa pela qual nutre uma imensa gratidão, o colocou no caminho das crianças deficientes. Aliás, o atual presidente, que dirige a Apae de forma voluntária - sem salário - não vê obstáculos quando o assunto é promover qualidade de vida às 650 pessoas assistidas pela instituição, fundada em 1969. "Foi a primeira vez que me deparei com crianças deficientes. Eu nem sabia direito o que era a Apae. Daí, quando conheci de perto a história destas crianças, comecei a mudar. Foi uma transformação. Percebi que a gente não tem problema nenhum; que a gente é feliz e não sabe. E que tem muita gente que precisa de nós. É muito gratificante. Eu fui me envolvendo cada vez mais", definiu.
Montes se tornou presidente em 2014. Foi reeleito e, no final deste ano, finaliza a sua gestão. Aliás, assim que assumiu, enfrentou uma demanda de ordem financeira significativa, ocasionada, segundo ele, pela mudança na lei que regulamenta o terceiro setor brasileiro. "É a lei 13019. Com isso, as verbas passaram a vir carimbadas e engessadas. Por exemplo, temos aqui uma série de atividades que estas verbas não contemplam e, neste caso, começamos a ter um gasto muito alto com os nossos recursos próprios. Um deles era o quinquênio, plano de saúde... Exemplo, a prefeitura manda R$ 300 mil e com esse dinheiro, com a nova lei, eu só podia pagar professores, alguns técnicos e só. Não podia gastar com combustível, não podia pagar médico. Para suprir as necessidades, começamos a usar as nossas reservas", explicou.
A Apae, conforme Montes definiu, encostou no fundo do poço, já que a reserva de aproximadamente R$ 700 mil havia sido toda consumida com os custos do dia a dia. Foi neste momento que o presidente deu início à virada de jogo. "Visitei outras Apaes para saber o que eu poderia aplicar aqui. Estive em Franca, Arujá, Guarulhos... Fui assistir palestras, participar de congressos para aprender mais sobre captação de recursos. Aí, abriu minha mente, percebi que havia oportunidade para promover esta capitalização de verbas. As oportunidades estavam abertas, aliás, como estão até hoje", explicou.
E a situação começou a clarear. "Ampliamos os eventos sociais e divulgamos a necessidade da captação de recursos. Hoje, temos 15 eventos por ano. Com isso, começamos a receber ajuda das pessoas. Muitos nem sabiam que estávamos vivendo esta dificuldade em meados de 2014. Hoje, conseguimos contratar profissionais para atuar no nosso comercial. Esta pessoa, por exemplo, visita empresas para captar recursos. Fizemos ainda investimentos em marketing. Temos também uma jornalista que faz todo o contato com a Imprensa", definiu.
A Apae de Mogi das Cruzes está com as contas equilibradas. Vive um momento de estabilidade, porém, não deve perder a atenção. "É claro que tivemos também de fazer alguns cortes, entre eles o quinquênio - que é uma incorporação no salário do funcionário a cada cinco anos. Consultei o nosso jurídico e descobri que a Apae não era obrigada a arcar com isso e, para o bem dos nossos cofres, eu cortei. Estamos equilibrados, mas não podemos nos descuidar", finalizou.