Mundo estranho esse no qual estamos inseridos. Muitos intelectuais afirmam que estamos sob o domínio do "pós-verdade". Um período em que notícias falsas são difundidas e aceitas para a solidificação de crenças que, para muitos, importam muito mais do que a veracidade dos fatos em si. É inegável que o advento da internet tem uma relação direta com a potencialização das notícias falsas.
Mas não são só as fakes News que encontram um terreno bem fértil nessa realidade. O negacionismo e o conspiracionismo também se aproveitam desse caldo de cultura. O discurso negacionista busca colocar em dúvida fatos já devidamente comprovados pela ciência. A pandemia de Covid-19 nos mostrou como isso pode ser prejudicial. É impossível precisar o número de pessoas entre os quase 670 mil mortos que poderiam continuar vivos caso seguissem as recomendações indicadas pela ciência.
Nessa mesma linha das fake news e do negacionismo, intensificou-se também o conspiracionismo, em que se tenta entender ou explicar algo, tendo como princípio que a sua natureza é secreta e parte de um plano conspiratório.
A crença de que o Sars-CoV-2 foi criado em laboratório pela indústria farmacêutica de olho no lucro com a venda de uma vacina, ou que foi espalhado pelos governos da China ou dos Estados Unidos, ou que é disseminado por meio do sinal 5G, foi aceita por um grande número de pessoas no Brasil e no mundo. O maior problema é que, uma vez consumida como critério de verdade, a notícia falsa ganha vida na cabeça de muitos.
Na tarde do dia 08/06, um casal com uma criança de colo e outras duas pequenas foi gravado destruindo a recepção de uma clínica ortodôntica em Belo Horizonte. A mulher fez em 2019 um procedimento de prótese e eles acreditam que um chip rastreador foi implantado. Em boletim de ocorrência policial, a mulher alegou que estava sendo perseguida e que o áudio do seu WhatsApp estava sendo vazado. Tempos estranhos e com gente esquisita.
Afonso Pola é sociólogo e professor