O imposto, este grande acordo civilizatório, criado entre governantes e governados visando proteção e bem-estar, nunca esteve tão arraigado em nossas conversas diárias. E, às portas de mais um final de ano, nos resta a incômoda sensação de que não há nada além de incertezas.

Chegamos ao fim de outubro em Mogi das Cruzes com um dilema em duas frentes: por um lado, o município institui o seu programa de parcelamento, o PPM, e segue com sua campanha de regularização de dívidas em atraso na comunidade sob o argumento da busca por um acordo humanizado e justo, para ambas as partes, para reduzir a bilionária dívida ativa do município - um caso que é endêmico em todas as cidades do país.

Do outro, o município ainda segue sob a polêmica da cobrança do Imposto Sobre Serviços (ISS) referente à construção civil, registrado em 2016. No cabo de guerra entre gestores públicos e grupos de moradores que se colocam contra, a indefinição de um curso a ser tomado por toda a comunidade faz com que o tempo siga inclemente, enquanto que o dia 20 de dezembro segue sendo a última data para adesão ao programa.

No entanto, os duelos do brasileiro com a sua tributação não se resumem a embates políticos e estratégicos em apenas uma cidade: uma breve visita ao Impostômetro, da Associação Comercial de São Paulo, coloca a arrecadação de todos os impostos pagos por toda a população na casa dos R$ 2,1 trilhões, o equivalente a quase todo o Produto Interno Bruto da Argentina. Mas, mesmo com todo o dinheiro do mundo nas mãos, gestores públicos ainda não conseguem oferecer serviços minimamente condizentes com a carga tributária.

A morte por inanição do Bolsa Família e a incerteza do futuro de milhões de famílias incluídas nos programas sociais, mostram que o Brasil ainda não sabe cobrar e não sabe gastar o dinheiro de seus contribuintes.

O parco dinheiro do brasileiro médio, esquartejado entre dívidas, o custo de vida e os sonhos de consumo, continua correndo para o labirinto dos impostos, sem uma saída visível. E, ás vésperas de eleição, este assunto ainda continua sendo um tabu.