Cheguei, aonde cheguei, porque sempre fui um obstinado! É comum ouvir-se daqueles que se submetem a tudo com uma espécie de reserva de mercado pessoal, onde ninguém ousa botar as patas. Mas o que seria a obstinação?
Dentre as muitas virtudes existe uma que prezo muito. Uma só: a obstinação! Todas as demais, sobre quais ouvimos dos gurus de plantão, dos mais chegados, dos livros e mesmo, dos mestres da comunicação, pouco me interessam. Obstinação também é obediência: só que à sua própria consciência! Todas as demais virtudes, tão apreciadas e enaltecidas, são obediência às leis ditadas pelos homens. Só a obstinação prescinde dessas leis.
Lastimo que a obstinação seja tão pouco apreciada! Acaso goza de estima? Claro que não! Incluindo, que se considera um vício, quando não, lamentável desmando. Só se designa por seu bonito nome quando molesta e suscita ódio. Pelas suas verdadeiras virtudes sempre molesta e suscita ódio! Basta lembrar o que ocorreu com Sócrates, Jesus, Giordano Bruno e tantos outros demais obstinados.
Quando existe certa vontade de admitir a obstinação como virtude, ou pelo menos, um belo atributo, se associa ao possível e áspero nome: caráter ou personalidade que não soa tão desagradável e vicioso, quanto obstinação. Agora, acompanhado de um tom mais palatável, e inclusive vestido de certa originalidade, se aceita em último caso. Claro que só referida a tipos raros aos que se tolera. Na arte, de onde a obstinação não pode infligir danos consideráveis ao capital e à sociedade, a mesma é tolerada. Inclusive, como via de originalidade, no artista é até desejável uma pitada de obstinação! No entanto para o demais, na linguagem cotidiana, entende-se por caráter ou personalidade algo muito complexo. Algo que existe e pode ser exibido e decorado, mas que no momento decisivo se submete precavidamente a leis estranhas.
Caráter se atribui ao homem que possui algumas idéias e opiniões próprias, mas que não vive em função de nenhuma delas!